Noções de Psicanálise no início

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A noção de psicanálise aplicada nos primeiros anos do movimento psicanalítico

Caio Padovana*
Vinicius Darribab
 aUniversitè Paris 7. Paris, França
b
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Psicologia,
Programa de Pós-Graduação em Psicanálise. Rio de Janeiro, RJ, Brasil


Resumo: Levando em conta a inserção da psicanálise no contexto científico da segunda metade do século XIX, o objetivo deste artigo será discutir a noção de psicanálise aplicada sustentada por Freud e seus pares nos primeiros anos do movimento psicanalítico. Para tal serão consultados trabalhos considerados pelo movimento como aplicados, assim como algumas contribuições de caráter metodológico, todos publicados durante este período inicial da história da psicanálise. Cabe ressaltar que, neste artigo, será priorizado o estudo das fontes primárias ligadas ao debate em questão.

Palavras-chave: psicanálise aplicada, método psicanalítico, história da psicanálise.



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Introdução
No campo das ciências naturais, a distinção en- tre um saber dito puro, por vezes também chamado de
conhecimento básico ou fundamental, e outro dito apli- cado não pode ser considerada um detalhe, um capricho.
Em primeiro lugar porque não se trata de uma distinção
recente na história destas ciências. Em segundo, pelo fato
de se tratar de uma distinção que parece orientar todo o
ideal moderno de ciência, de acordo com o qual é preciso
antes conhecer a natureza, para poder então prevê-la, con- trolá-la e agir sobre ela.


Nesse sentido, como argumenta Koyré (1943/1986),
o cientista moderno representa um salto em relação ao homo
faber que, embora fosse capaz de exercer controle sobre a
natureza, limitava o seu agir pela técnica. Nesses termos,
o cientista moderno – personagem que passaria a se iden- tificar com figuras como as de Galileu e Descartes – surge
como um teórico, um sujeito mais próximo da filosofia do
que dos ofícios, sujeito comprometido com a construção de
modelos distantes até certo ponto da experiência cotidiana:


A ciência destes [de Galileu e Descartes] não é
de engenheiros ou artesãos, mas de homens cuja
obra raramente ultrapassou a ordem da teoria. . . .
Galileu não aprendeu o seu ofício com aqueles que
se atarefavam nos arsenais e estaleiros navais de
Veneza. Muito pelo contrário: ensinou-lhes o dele
(pp. 12-13).


O que expõe Koyré na primeira metade do século
XX já se mostrava presente na obra dos grandes arautos
da ciência, como Francis Bacon, D’Alembert e Augusto
Comte. À sua maneira, cada um destes autores já havia
estabelecido uma distinção clara entre os ramos teórico e
prático, paralelo do que aqui denominamos puro e apli- cado. Comte, por exemplo, baseando-se em seus anteces- sores, dirá que todas as realizações humanas são “ou de
especulação ou de ação”, o que daria base ao âmbito mais
geral de sua classificação do conhecimento. Tal classifica- ção incluiria, por um lado, o saber teórico considerado mais
fundamental e, por outro, o saber prático, necessariamente
derivado daquele primeiro (Comte, 1830/1936, p. 55).


No caso particular da medicina científica, que tem
na obra do médico francês Claude Bernard (1813-1878) um
dos seus principais representantes, podemos observar o
mesmo movimento que buscava opor estes saberes de or- dens distintas. Como aponta Bernard em sua obra mais co- nhecida, Introdução ao estudo da medicina experimental
(1865/1966), é Eugène Chevreul o seu autor de referência
em tudo que concerne à “filosofia da ciência experimental”
(p. 12). Com base na obra de Chevreul, figura importante
no cenário científico francês do século XIX e responsável
pela introdução da nomenclatura puro e aplicado, Bernard
assumiria a distinção entre conhecimento teórico e aplica- do. O primeiro deles seria alcançado pelo estudo experi- mental do homem, sendo o segundo o seu desdobramento
prático; neste caso, aquele que orientaria o médico em sua
prática clínica cotidiana. A propósito dessa nomenclatura,
segue a citação de Chevreul (1866):


As ciências médicas [entendidas como ciências
naturais aplicadas] cujo objetivo é curar as doen- ças não têm . . . qualquer característica essencial,
pois elas tomam de empréstimo, para atender este
objetivo, a totalidade dos conhecimentos que con- 
cernem às ciências naturais puras e às ciências
matemáticas. . . . é impossível não admitir que o
conhecimento dos defeitos estruturais dos órgãos
humanos e as doenças fazem parte integrante da
anatomia e fisiologia, isto é, do domínio da ciência
pura. (p. 269, grifo e tradução nossos)


Oriundo do campo médico, o movimento psicana- lítico da primeira década do século XX adotou essa mes- ma terminologia, que, por sua vez, carregara consigo essa
mesma carga semântica estabelecida em diferentes domí- nios pelos fundadores da ciência moderna. Não por acaso,
Freud e seus colaboradores, certos do pertencimento da re- cente ciência psicanalítica ao campo das ciências naturais,
nele enquadrariam a pesquisa e a prática da psicanálise.
Nesses termos, seriam então definidas na ata de fundação
da Associação Psicanalítica Internacional (IPA) as duas vi- cissitudes dessa nova ciência, entendida como: “psicologia
pura” e “em sua aplicação à medicina e às humanidades”
(Ferenczi & Jung, citado por McGuire, 1974/1976, p. 641).


Sendo o objetivo deste artigo discutir, com relação
à inserção da psicanálise no campo da ciência, o lugar da
psicanálise aplicada, e levando em conta as particulari- dades que acompanham tal inserção, a questão que nos
ocupará será a seguinte: em que sentido a/uma psicanáli- se pode ser concebida como uma disciplina ou uma prá- tica aplicada? Ou, simplesmente, o que vem a significar
aplicação em psicanálise? Restringiremos a discussão,
aqui, ao exame da apropriação das categorias de puro e
aplicado nos primeiros anos do movimento psicanalítico,
privilegiando o que diz respeito à noção de aplicação e
focando em publicações realizadas nas duas primeiras
décadas do século XX. Com base nisso, buscaremos si- tuar o sentido que vem a assumir a relação entre o puro e
o aplicado na experiência analítica.


Por fim, cabe lembrar que este trabalho é um estudo
de história da psicanálise. Nele privilegiaremos a apresenta- ção de um problema, o da aplicação da psicanálise, restrin- gindo assim uma possível abordagem crítica dirigida a ele.


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O puro e as suas aplicações em psicanálise
Em 1910, em meio ao segundo Congresso
Psicanalítico realizado em Nuremberg, Sándor Ferenczi
sugere a criação de uma Associação Internacional de
Psicanálise, cujo objetivo, conforme seu estatuto, inclui a
delimitação que indicamos anteriormente:


O cultivo e a promoção da ciência psicanalítica tal
como iniciada por Freud, tanto em sua forma como
pura psicologia quanto em sua aplicação à medi- cina e às humanidades; assistência mútua entre
membros em seus esforços para adquirir e fomentar
o conhecimento psicanalítico (Ferenczi & Jung, ci- tado por McGuire, 1974/1976, p. 641, grifo nosso).


Após um discurso proferido a respeito da história
do movimento psicanalítico e da necessidade de uma maior
união entre os pesquisadores em psicanálise (Ferenczi,
1910/2011d), o Congresso aceita a sua proposta, dando
assim origem à Associação Psicanalítica Internacional
(IPA). Outro sucedâneo deste congresso seria a Revista
central de psicanálise [Zentralblatt für Psychoanalyse],
editada pelo psicanalista vienense Wilhelm Stekel e diri- gida por Freud. Na época, já circulavam dois periódicos
nos meios psicanalíticos, o Anuário de pesquisas psicana- líticas e psicopatológicas [Jahrbuch für psychoanalytis- che und psychopathologische Forschungen], fundado em
1909 por ocasião do primeiro Congresso Psicanalítico, e
os Escritos de psicologia aplicada [Schriften zur ange- wandten Seelenkunde], que tiveram o seu primeiro volume
publicado em 19071
. Os dois primeiros priorizariam as pes- quisas de cunho teórico e técnico em psicanálise, enquanto
o segundo, junto com a revista Imago, fundada em 1912
e editada por Otto Rank e Hans Sachs, seria destinado à
aplicação da psicanálise àquilo que nos objetivos da IPA
seria chamado de humanidades [Geisteswissenschaften].
Cabe ressaltar que a revista Imago tinha como subtítulo
a seguinte definição: Revista voltada para a aplicação da
psicanálise às humanidades.


No Anuário apareceriam trabalhos importantes
como: o caso Hans e o Homem dos Ratos, publicados por
Freud (1909/1996e, 1909/1996f); “Transferência e intro- jeção”, por Ferenczi (1909/2011c); e as investigações de
Alphonse Maeder (1910) sobre a demência precoce, as quais
seriam retomadas por Freud no caso Schreber (1911/1996g).
Tratam-se aqui, portanto, de trabalhos que, em sua maio- ria, poderiam ser entendidos como contribuições à psica- nálise enquanto psicologia pura. Vale observar que a nota
editorial que acompanha o primeiro volume da revista,
escrita por Jung sob a orientação de Freud, já sugere uma
distinção entre o “desenvolvimento de uma psicologia” e
de “sua aplicação às doenças nervosas e mentais” (Jung,
1909/1970, citado por McGuire, 1974/1976, pp. 253-234).
Quanto à Revista Central, tal periódico, como consta em
sua “Apresentação ao leitor” (Stekel, 1911/1964a), estaria
voltado à publicação de trabalhos mais breves, incluindo
contribuições técnicas e comentários mais gerais de caráter
introdutório. Freud (1910/1989c), por exemplo, publicaria
nessa revista as “Perspectivas futuras da terapêutica psi- canalítica”, Stekel (1911/1964b) escreveria sobre “O trata- mento psíquico da epilepsia” e Isidor Sadger (1911/1964),
psicanalista vienense, publicaria “Seria a asma bronquial
uma neurose sexual?”


Embora a Revista não se limitasse apenas a este
tipo de contribuição, todos esses trabalhos poderiam ser
pensados como aplicações da psicanálise à medicina, le- vando em conta que ainda não se apresentara ocasião de
demarcar a extraterritorialidade da clínica psicanalítica
com relação à medicina. Por outro lado, as publicações
que tiveram lugar nos Escritos de psicologia aplicada e
na Imago se centrariam na aplicação da psicanálise aos
domínios da literatura, da mitologia, da filologia etc., em
trabalhos que nem sempre eram escritos por psicanalistas.
Nesses periódicos foram publicados textos como: “Delírios
e sonhos na Gradiva de Jensen” e “Totem e Tabu”, por
Freud (1907/1996c, 1913/1996i), “Sonho e mito”, por Karl
Abraham (1909/2000a) e “O problema de Hamlet e o com- plexo de Édipo”, por Ernest Jones (1911).


Feito este panorama, concentremo-nos naqueles
trabalhos que o movimento psicanalítico passou a chamar
de aplicados, seja à medicina, seja às humanidades, a fim
de melhor compreender as distinções e as particularidades
aí envolvidas.

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A psicanálise aplicada à medicina
Ao nos voltarmos para os textos de psicanálise
aplicada à medicina, como delimitado no estatuto da IPA,
esbarramos, por um lado, em questões ligadas à técnica e,
por outro, na possível aplicação da teoria psicanalítica à
prática médica. Quando Freud (1895/1996a) propõe a asso- ciação livre como uma técnica de alcance mais amplo que
o inquérito sob hipnose, ou quando Ferenczi (1919/2011e)
propõe a técnica ativa lado a lado com a escuta psicana- lítica tradicional, é difícil saber em que medida houve ou
não aplicação de uma teoria pré-concebida à experiência.
Levando em conta esses exemplos, talvez possamos dizer
que uma inovação técnica não depende necessariamente
da existência de um modelo teórico bem definido que lhe
anteceda. Inovações como estas podem ser pensadas como
estratégias clínicas criadas a partir da própria experiência,
sem o aporte de um referencial teórico preestabelecido.
Freud (1904/1989a), nesses termos, nota que pode alcançar
melhores resultados ao deixar seus pacientes associarem
livremente, “mais ou menos como se faz numa conversa
a esmo, passando de um assunto a outro” (pp. 234-235).
Diante desse fato, a “ampliação da consciência” (p. 234)
possibilitada pela hipnose, é então substituída pelas “as- sociações dos enfermos” (p. 234) e pelo trabalho analítico
a elas dirigido. A partir desse momento, dada a sua maior
eficácia, aquilo que até então era uma simples aposta passa
a ganhar o estatuto de técnica.


Mas o que definiria a eficácia aqui? No que concer- ne à introdução da associação livre como regra fundamen- tal, podemos pensar no número de pacientes que a partir
do uso dessa técnica tornaram-se acessíveis à análise, pa- cientes que por sua vez não eram facilmente – ou de modo
algum – hipnotizáveis. Dirigindo nossa atenção ao uso
médico de métodos de tratamento hipnótico-sugestivos nas
últimas décadas do século XIX, é possível concluir que, de
fato, tal procedimento não era efetivo em toda sorte de pa- cientes e que a introdução de uma técnica como a da livre
associação teria aparecido como uma verdadeira inovação.
Pitres e Regis (1897), por exemplo, em um trabalho de sín- tese que visa discutir e reunir tudo o que já havia sido pro- blematizado a respeito da clínica das obsessões, concluem
que os métodos de sugestão hipnótica não funcionavam
nesses pacientes e que era realmente necessário aliá-los a
outros para que algum resultado pudesse ser alcançado (pp.
101-102).


Como propõe Ferenczi (1919/2011e, pp. 2-3), e como
também diria Freud (1919/1996n, p. 175), a introdução da
técnica ativa pode ser pensada nos mesmos termos, isto é,
como uma inovação técnica capaz de melhor instrumenta- lizar o analista em sua prática. Nesse caso, ao deslocar a
abstinência do analista para o paciente, a eficácia dessa téc- nica era demonstrada pelos efeitos da posição ativa sobre
transferência, barrando a repetição de uma satisfação ve- lada e favorecendo a recordação do material inconsciente.


Este tipo de aprendizado, pela experiência, parece
ser o mesmo que vem a ser exposto no conjunto de artigos
sobre a técnica, publicado pelo psicanalista vienense entre
1911 e 1914 e que, de forma alguma, constitui um manual
técnico no senso próprio do termo. Nem tudo que vem a ser
recomendado por Freud nesses breves trabalhos aparenta
possuir um correlato metapsicológico ou teórico preciso.
Trata-se, por assim dizer, de um conhecimento apreendido
empiricamente, ou seja, a partir da lida cotidiana com a
clínica das neuroses e psicoses, o que não impede que ele
possua uma série de pressupostos implícitos.


Atentando talvez a isso, o psicanalista francês
Jacques Lacan (1952/2007, p. 12) chegou a comparar a prá- tica psicanalítica às “artes liberais na idade média”, disci- plinas que, embora carentes de um rigor científico ainda
inexistente, eram capazes de demonstrar uma significativa
eficácia prática. Assumindo esse ponto de vista, a psica- nálise enquanto técnica poderia ser comparada, a exemplo
do que expõe Koyré, ao ofício dos “estaleiros navais de
Veneza” citados no início do artigo e, nesse sentido, a uma
prática mais própria ao homo faber. 


Em contrapartida, há momentos em que a aplicação
da teoria à prática é feita de modo explícito e direto. Um
exemplo interessante dessa aplicação coincide com a pró- pria expansão da psicanálise para fora da Áustria, quando
a teoria e o método freudianos começaram a ser aplicados
por alguns médicos suíços à clínica das psicoses. Foi por
iniciativa de Eugen Bleuler que a psicanálise passou a ser
estudada pela equipe da clínica psiquiátrica do Burghölzli,
a partir de 1903, composta por clínicos que futuramente
ocupariam uma posição de destaque no movimento psica- nalítico, como Carl G. Jung, Karl Abraham, Max Eitingon,
Alphonse Maeder, Ludwig Binswanger etc.


Em primeiro lugar, observamos a clara influência
e mesmo aplicação das teorias de Freud no estudo expe- rimental das associações2
, o qual daria origem à noção de
complexo que logo seria absorvida pela psicanálise. Essa
tentativa de aplicação, agora dirigida ao contexto das psi- coses, constaria igualmente em uma importante publicação
de Jung datada de 1907: A psicologia da demência preco- ce (1907/1986). Nesse trabalho seminal levado a cabo pelo
psiquiatra suíço, as generalizações alcançadas por Freud
com base na clínica da histeria e da neurose obsessiva, as- sim como as hipóteses psicogênicas associadas à noção de
defesa, foram em grande medida aplicadas aos casos de
demência precoce estudados no Burghölzli. Tal obra deu
início a uma intensa reflexão sobre a psicose desde um
ponto de vista psicanalítico, a qual resultaria no trabalho
de 1914, responsável pela introdução do “narcisismo” como
conceito teórico (Freud, 1914/1996k).


Ainda em relação a esse mesmo tipo de aplicação,
podemos lembrar os comentários de Freud a respeito do
impacto da psicanálise sobre uma disciplina como a bio- logia, campo este que, segundo ele, certamente se bene- ficiaria do conhecimento extraído da análise de pacientes
neuróticos (Freud, 1913/1996j, pp. 183-4). De acordo com
o psicanalista, a descoberta de pulsões sexuais capazes de
subverter os imperativos da autoconservação não poderia
passar despercebida pelos biólogos. Nesse sentido, a teoria
da sexualidade, articulada ao conceito de libido, poderia
ser aplicada à biologia e, portanto, à medicina. De forma
semelhante, ao reagir ao problema do ensino da psicanáli- se nas universidades, Freud argumenta que o saber psica- nalítico poderia contribuir para a formação do médico na
medida em que seria capaz de adverti-lo em relação à in- fluência dos “fatores mentais” sobre as “diferentes funções
vitais, bem como nas doenças e no seu tratamento” (Freud,
1919/1996o, p. 187).


Exemplos práticos dessas contribuições podem ser
vistos em trabalhos já citados, como o de Maeder sobre a epi- lepsia e o de Sadger sobre a asma. Também poderíamos citar
aqui Ferenczi (1908/2011a, 1908/2011b), que aplica as hipó- teses freudianas à ejaculação precoce e à impotência sexual,
buscando para esses sintomas uma explicação psicológica,
e Abraham (1909/2000b), que estuda o fenômeno dos casa- mentos consanguíneos a partir da psicologia das neuroses.


Posto isso, notamos que sob o título de aplicação
da psicanálise à medicina é possível pensar em pelo menos
duas dimensões de aplicação, a da técnica enquanto aplica- ção da psicanálise e a da aplicação propriamente dita da teo- ria à prática. Trata-se aqui de uma distinção importante, pois
nos alerta sobre a existência de dois diferentes movimentos
que, por acaso, se reúnem sob a mesma designação de apli- cação. A primeira delas diz respeito ao exercício da psica- nálise em si mesmo, marcado pelo uso de uma técnica. A
segunda refere-se à aplicação de um conhecimento extraído
desse exercício a situações que em princípio poderiam ser
pensadas como estrangeiras a psicanálise, como fora o caso
da clínica das psicoses na primeira década do século XX.

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A psicanálise aplicada às humanidades
“Humanidades” é a expressão escolhida por nós
para traduzir o termo alemão Geisteswissenschaften. Tal
expressão teve origem no pensamento do filósofo Wilhelm
Dilthey (1833-1911) e possui uma longa história no interior
da filosofia da ciência alemã. O mesmo termo pode ser
igualmente traduzido por ciências humanas ou ciências do
espírito, como veio a ser na literatura filosófica e científi- ca de língua portuguesa. Levando em conta as finalidades
deste artigo, não será o caso entrar neste debate, bastando
a nós definir o “campo das humanidades” [Geistesgebiete]
como aquele que, segundo o prospecto da revista Imago, compreende: “estética, literatura e história da arte, mito- logia, filologia, pedagogia, folclore, criminalística, teoria
moral e ciência da religião” (Rank & Sachs, 1912a, pagina- ção irregular, tradução nossa).


Como nos mostra Freud em A história do movimen- to psicanalítico (1914/1996l, pp. 44-5), o “exame analítico
de pessoas neuróticas e os sintomas neuróticos de pessoas
normais” levaram logo a supor a existência de “condições
psicológicas que haveriam de ultrapassar a área do conhe- cimento na qual tinham sido descobertas”, isto é, ultrapas- sar as suas aplicações médicas. Freud atribui esse impulso
à expansão das fronteiras da psicanálise aos seus próprios
trabalhos iniciais. Nesses termos, cita o livro dos Chistes, publicado em 1905, como o primeiro exemplo de uma
“aplicação da modalidade analítica de pensamento aos pro- blemas da estética” (Freud, 1914/1996l, p. 46). Dois anos
mais tarde, no comentário dirigido a uma obra literária,
o Gradiva de Jensen, Freud afirmará que as “leis” desco- bertas a partir do estudo dos sonhos poderiam ser também
usadas para se compreender a “natureza da criação lite- rária” (Freud, 1907/1996c, pp. 20-21). A mesma referência
a “leis” [Gesetzen], responsáveis por “reger as atividades
normais e patológicas” da vida mental do homem, encon- tra-se no trabalho publicado em 1910, sobre Leonardo da
Vinci (Freud, 1910/1989b, p. 59). Em ambos os casos, como
nos parece evidente, o que está em jogo é justamente a con- cepção clássica de aplicação, onde um saber “puro” vem a
ser “aplicado” em um contexto outro daquele em que foi
desenvolvido.


Algo dessa ordem, porém, não poderia ser feito de
qualquer jeito, o que Freud defenderá ao longo da sua obra:
“Mas teríamos de ser muito cautelosos e não esquecer que,
em suma, estamos lidando apenas com analogias e que é
perigoso, não somente para os homens mas também para
os conceitos, arrancá-los da esfera em que se originaram
e se desenvolveram” (Freud, 1930/1996p, p. 146). Quanto
a isso, um grande debate a respeito dos critérios envolvi- dos na aplicação da psicanálise já tinha lugar na Sociedade
Psicológica das Quartas-feiras, grupo formado por Freud,
em 1902, com seus primeiros colaboradores vienenses.


Em 1906, nas sessões de 10, 17 e 24 de outubro
dedicadas à psicanálise aplicada, Otto Rank propôs uma
interpretação psicanalítica de uma série de casos de inces- to colhidos da literatura (citado por Nuremberg & Federn,
1962/1976, pp. 31-56). Tal manuscrito “O drama do incesto
e suas complicações” foi muito criticado pelo caráter exa- gerado e por vezes impreciso das interpretações propostas,
abrindo assim uma discussão sobre o problema da aplicação
da psicanálise às humanidades. Adolf Häutler, por exem- plo, criticou a pertinência da transposição indiscriminada 
de conceitos oriundos do campo individual para o campo
coletivo. Häutler criticou também a tese segundo a qual a
obra de um autor possuiria necessariamente relação com
a sua vida pessoal. Alfred Adler, por sua vez, elogiou a
iniciativa de Rank, muito embora afirme que as interpreta- ções tenham ido longe demais em alguns pontos; excesso
que Alfred Meisl chega a considerar um perigo para a re- putação da psicanálise. Freud julgaria boas algumas das in- terpretações de Rank, acrescentando, a despeito da opinião
de Häutler, que, no caso da aplicação da psicanálise a obras
literárias, cabe ao pesquisador explorar as relações entre a
escolha de um tema e a vida pessoal do escritor.


Como podemos notar com base nesse episódio, o
problema da aplicação da psicanálise às humanidades era
delicado e o seu exercício exigia certa prudência. Qual se- ria a forma mais apropriada de aplicar os conceitos em um
contexto extraclínico? Como avaliar os limites de uma in- terpretação fora da relação transferencial? As realizações
artísticas seriam elas também interpretáveis em termos de
sua determinação inconsciente? Tais questões não pare- ciam encontrar resposta fácil nessa época.


Em meio a essa atmosfera de dúvidas, observa- mos o aparecimento do ensaio de Freud sobre o romance
Gradiva: uma fantasia pompeana, escrito por Wilhelm
Jensen (1904/1987). Trata-se de um ensaio extremamente
claro, cuidadoso e moderado no que diz respeito à aplica- ção dos conceitos. Em primeiro lugar, diferentemente de
Rank, opta pelo estudo de apenas uma obra, limitando sua
análise tão somente às informações contidas no texto, ra- zão pela qual não chega a construir hipóteses sobre as pos- síveis motivações inconscientes do autor. Freud também
não se compromete com a realidade das suas afirmações,
restringindo sua análise a um paralelo entre as manifesta- ções inconscientes de um personagem e as mesmas forma- ções observáveis em sujeitos neuróticos de carne e osso.
Em uma carta endereçada a Jung em 26 de maio de 1907,
chegaria então a comentar: “nada do que ele diz é verdade,
mas acredito que nos habilite a desfrutar de nossas rique- zas” (citado por McGuire, 1974/1976, p. 92). Dessa forma,
como podemos concluir, o Gradiva de Freud não faz outra
coisa senão ilustrar a partir de um romance ordinário tudo
aquilo que já fora descoberto a partir da clínica psicanalíti- ca, compondo assim uma obra de divulgação teórica.


Neste mesmo ano, 1907, Max Graf, doutor em le- tras, membro da Sociedade das Quartas-feiras e pai do
pequeno Hans, retoma o problema da psicanálise aplicada
na sessão de 11 de dezembro propondo uma metodologia
para o estudo da psicologia dos escritores. Tal intervenção
aparece como uma resposta ao trabalho de Isidor Sadger
sobre o poeta e romancista suíço Konrad Meyer, o qual fora
bastante criticado dentro da Sociedade. Graf afirma que a
abordagem psicanalítica do escritor não pode ser confun- dida com uma “patografia” semelhante àquelas levadas a
cabo por Cesare Lombroso, viés que segundo o autor nor- teava o trabalho de Sadger (Graf, citado por Nuremberg &
Federn, 1962/1976, p. 276). Sustentando então um ponto de
vista diferente, o homem de letras dirá que, em primeiro
lugar, a análise psicológica do artista não poderia estar
comprometida com um ideal de saúde psíquica, devendo,
além disso, ser empreendida por um sujeito muito sensível
às artes. Em segundo lugar, deve o analista priorizar a obra
do autor, sem depositar demasiada confiança no relato de
terceiros ou mesmo em autobiografias, pois estas estariam
marcadas pelo caráter tendencioso e pelos inevitáveis efei- tos da resistência. Reportando-se às obras, Graf ainda afir- ma que o analista deve partir dos temas que se repetem na
obra de um determinado autor, pois são estes retornos que
o levarão para o coração do inconsciente.


Mostrando-se simpático às ideias de Graf, Freud
afirma, ainda nessa sessão, que o estudo psicanalítico dos
escritores criativos deve de fato ultrapassar as “patogra- fias”, uma vez que priorizam o processo de criação, poden- do apreender assim algo de novo. A partir do estudo dessa
produção criativa seria então possível chegar a um perfil
mais ou menos fiel do escritor e também da arte em ge- ral. Avançando em relação ao seu trabalho sobre Gradiva,
publicado meses antes, Freud (citado por Nuremberg &
Federn, 1962/1976, p. 282) dá um exemplo desse método
cruzando o romance em questão com dois outros escritos
por Jensen: O guarda-chuvas vermelho (1892/2011) e Na
casa gótica (1892/1999)3
. Cabe lembrar que Freud chegou
a trocar cartas com o autor questionando-o a respeito de
alguns eventos pessoais, tentando assim apoiar as suas
interpretações4
. Um breve trabalho publicado por Otto
Rank, O artista (1907), chamaria atenção para os mesmos
problemas5


. Influenciado provavelmente por este debate, Freud
afirmaria em um pós-escrito à análise da obra de Jensen,
datado de 1912, que a investigação psicanalítica deveria não
apenas procurar no trabalho de escritores criativos “uma
confirmação das descobertas feitas em seres humanos neu- róticos banais”, mas também “conhecer o material de lem- branças e impressões no qual o autor baseou a obra, e os
métodos e processos pelos quais converteu esse material em
obra de arte” (Freud, 1912/1996h, p.87). Neste meio tempo,
uma série de outros trabalhos foi publicada seguindo esta
proposta metodológica (Hitschmann, 1911/1913, p. 142).


A partir desse momento, passando pela afirmação
explícita no pós-escrito do Gradiva, datado de 1912, Freud
parece sugerir que o estudo das realizações artísticas, alia- das à investigação das lembranças e impressões nas quais
o autor se baseou, poderia levar a resultados semelhantes
àqueles obtidos pelas pesquisas que tinham lugar na clíni- ca. Tal como o fenômeno onírico e os devaneios, a obra de
arte poderia ser então estudada enquanto expressão do in- consciente, pois ambos estariam fundados no solo comum
da fantasia. Um argumento como este já havia sido susten- tado poucos dias antes da reunião em que Graf faria a sua
comunicação à Sociedade, em 6 de dezembro, na confe- rência Escritores criativos e devaneio (Freud, 1908/1996d),
realizada nos salões do editor e livreiro Hugo Heller, que
também frequentava a reunião das quartas-feiras.


Sem dúvida, o texto de Leonardo, que conta com
o estudo de biografias, de algumas das suas obras e tam- bém de lembranças pessoais, inscrevia-se nesse projeto de
produzir conhecimento a partir de um contexto extraclí- nico. Nesse sentido, a noção clássica de aplicação, antes
em vigor, daria lugar a uma forma diferente de aplicação.
Agora não era mais o caso de aplicar diretamente a teoria
ao objeto de estudo, mas sim de aplicar o método de inves- tigação psicanalítico a esse mesmo objeto. Ou seja, a hipó- tese do inconsciente deixaria de ser pensada unicamente
nos termos de uma teoria a ser aplicada ao campo das hu- manidades, passando então a definir o próprio método
que sustentaria tal aplicação da psicanálise. A extensão do
método a objetos extraclínicos, e não só da teoria, teve as- sim a chancela de Freud.


O aparecimento da revista Imago, que ganharia
a sua primeira edição em 1912, é a concretização desse
projeto. O artigo que abre a revista vem a ser justamente
uma espécie de manifesto escrito por Rank e Hans Sachs
(1912b) em defesa da pertinência do estudo psicanalítico
das mais variadas realizações humanas. Partindo do prin- cípio de que essas realizações, assim como os sonhos e os
devaneios, estariam amparadas pela fantasia, seria justo
dirigir-lhes o mesmo estudo sistemático antes dirigido aos
sonhos e aos devaneios pelo psicanalista clínico. Um ano
mais tarde, Rank e Sachs publicariam um trabalho mais
extenso abordando a mesma problemática da aplicação da
pesquisa psicanalítica às humanidades: A importância da
psicanálise para as humanidades (1913). De início, Freud
mostrou-se animado com o potencial do periódico. Sabemos
pela correspondência com Jung que o psicanalista ansiava
por novas contribuições nessa área já há alguns anos. Em
carta datada de 19 de dezembro de 1909, ele afirma: “anseio
por mitólogos, linguistas e historiadores da religião; caso
não venham em nossa ajuda, teremos de nos arranjar sozi- nhos” (Freud, 1909, citado por McGuire, 1974/1976, p. 330).


Posteriormente, porém, Freud acaba chegando à
conclusão de que nem todos os trabalhos publicados sob
a égide da psicanálise aplicada eram capazes de seguir o
rigor metodológico esperado. Em correspondência com
Karl Abraham em 6 de abril de 1914, o psicanalista de
Viena questionaria o valor do seu Moisés de Michelangelo, publicado anonimamente no terceiro volume da Imago, e
criticaria o caráter diletante de boa parte das obras publi- cadas nessa revista: “O Moisés é anônimo em parte por
gracejo, em parte por vergonha do amadorismo óbvio e
dificilmente evitado nos artigos da Imago e, finalmente,
porque minhas dúvidas sobre os achados são mais fortes
do que o normal” (Freud, 1914, citado por Faltzeder, 2002,
p. 228, tradução nossa). Podemos considerar Abraham
aqui como um correspondente privilegiado no que diz
respeito ao debate sobre a psicanálise aplicada, uma vez
que o seu estudo comparativo entre os sonhos e os mitos
(1909a/2000), assim como os seus ensaios sobre Giovanni
Segantini (1911/2000c) e Amenhotep IV (1912/2000d), fo- ram bastante elogiados por Freud e no interior do movi- mento psicanalítico.


Ao que tudo indica, a desconfiança dirigida ao valor
dos achados nesses estudos aplicados tinha alguma relação
com a arbitrariedade envolvida na eleição e na interpreta- ção desses mesmos achados. Diferente de uma psicanálise
clínica, uma psicanálise aplicada às artes e aos artistas,
ainda que contasse com um grande material de consulta,
estaria sempre limitada à observação de uma obra muda.
Nesse sentido, uma pesquisa dita aplicada, ainda que rigo- rosa, poderia facilmente mergulhar em uma cadeia especu- lativa sem fim, visto que uma investigação desse tipo não
permitiria a mesma interação encontrada na clínica entre
um analista e um paciente capazes de falar e escutar.


O Moisés de Michelangelo, apontado por Freud,
é de fato um bom exemplo desse mergulho especulativo
ao qual nos referimos. Nesse artigo, o autor busca tra- duzir em palavras a “intenção do artista” Michelangelo
a partir da observação de uma de suas obras, a escultu- ra de Moisés (Freud, 1914/1996m, p. 217). O autor inicia
com uma revisão da literatura recente que já se ocupava
dessa mesma tarefa. Em seguida, propõe um método de
observação muito particular, o qual, embora tivesse nas- cido no contexto das artes com o objetivo de descobrir
falsificações, parecia possuir alguma semelhança com a
investigação psicanalítica. Tal método visava justamente
os detalhes que passavam despercebidos pelos grandes
críticos, como o contorno das unhas, das orelhas etc., ra- zão pela qual encontraria paralelo na técnica da psicaná- lise, que também privilegiava detalhes da vida psíquica
normalmente desprezados. Com esse procedimento em
mente, o psicanalista concentra então a sua observação em
dois detalhes menores da escultura, “a postura da mão di- reita” de Moisés e a “posição das duas tábuas da Lei” (p.
228). Logo em seguida, depois de tecer alguns comentá- rios, se questiona: “terão essas minúcias [detalhes da obra]
alguma significação na realidade ou estaremos quebrando
a cabeça com coisas que não foram de importância para o
seu criador?” (Freud, 1914/1996m, p. 229, grifo nosso). Por
fim, ao cabo da sua análise e chamando atenção para os
esforços de outro intérprete, afirmaria:


Mas, e se ambos nos tivermos extraviado por um
caminho errado? Se houvermos tomado de ma- neira demasiado séria e profunda uma visão de
detalhes que nada são para o artista, detalhes que
introduziu de modo inteiramente arbitrário ou por
razões puramente formais, sem nenhuma intenção
oculta por trás deles? Se houvermos partilhado o
destino de tantos intérpretes que pensaram perce- ber muito claramente coisas que o artista não pre- tendeu, nem consciente, nem inconscientemente?
Não posso dizer. (p. 239)


Outro exemplo muito interessante desse perigo es- peculativo pode ser encontrado na leitura que Freud faz de
Leonardo da Vinci. A respeito dessa investigação, basea- da em uma lembrança de infância encontrada no caderno
do artista, Freud busca estabelecer, assim como o faria no
Moisés, uma ponte entre os “métodos” de exploração da
psicanálise pura e aqueles da psicanálise aplicada. Partindo
desse princípio, o psicanalista propunha: “Como hoje con- tamos nas técnicas da psicanálise com excelentes métodos
que nos ajudam a trazer para a superfície esses elementos
ocultos, podemos tentar preencher a lacuna que existe na
história da vida de Leonardo analisando a sua fantasia in- fantil” (Freud, 1910/1989b, p. 79). A análise dessa fantasia
seria feita, portanto, da mesma forma que um psicanalista
clínico analisaria um sonho ou um lapso, levando em con- ta, segundo o protocolo de Graf, informações colhidas das
obras do artista e de fontes biográficas diversas.


No entanto, nesse caso, diferente do que ocorreu
com Michelangelo, a certeza de tal extravio por um cami- nho errado – mencionado na análise de seu compatriota
florentino – que faria desmoronar toda uma estrutura ar- gumentativa, parece ter se confirmado.


Em seu trabalho, por conta de um mal-entendido
que veio se revelar somente décadas mais tarde, Freud
apoiou uma parte significativa da sua argumentação no
conteúdo de uma lembrança que, a rigor, nunca existiu.
Com base em dados biográficos, fornecidos pelo próprio
Leonardo, o psicanalista afirmara que, quando criança, o
artista fora fustigado na altura dos lábios por um abutre,
pássaro este ligado a uma dupla significação. Por um lado,
enquanto imagem, vinha representar a mãe na mitologia
egípcia; por outro, enquanto animal, povoava o imaginá- rio renascentista como uma fêmea reprodutora capaz de
procriar sem a ajuda de um macho. Posto isso e conside- rando o fato de Leonardo ter sido provavelmente criado
apenas pela mãe até os seus 5 anos de idade, Freud infere
a existência de uma forte identificação do artista para com
esta mãe, o que consequentemente o levaria a uma esco- lha de objeto homossexual. Por fim, tal seria o argumento
intermediário capaz de confirmar a hipótese proferida no
início do artigo, segundo a qual o gênio florentino teria
desenvolvido um “poderoso instinto de pesquisa” como
resultado de sua homossexualidade sublimada (Freud,
1910/1989b, p. 74).


De acordo com pesquisas desenvolvidas nos anos
1950, porém, chegou-se à conclusão de que o pássaro em
questão, presente nos arquivos biográficos de Leonardo a
que Freud teve acesso, era um milhafre e não um abutre;
revelando, portanto, que o psicanalista e toda a sua constru- ção fabulosa em torno de Leonardo fora vítima de um erro
de tradução. A tradução alemã dos cadernos de Leonardo
a que Freud teve acesso trazia o termo Geier (abutre) como
tradução para a palavra italiana Nibbio, a qual vem designar
outro pássaro, o milhafre (Freud, 1910/1989b, pp. 76-7n).


No entanto, é notável que, a despeito desse erro, a estrutura especialmente complexa e o encadeamento ló- gico do artigo publicado em 1910 permanecem sólidos. A
pertinência do argumento, contudo, mostra-se duvidosa,
pois um milhafre não é um abutre e, ainda que também
pudesse representar a mãe no contexto de uma fantasia
infantil, não seria capaz de engendrar toda a simbologia
evocada a partir do abutre. Nesse sentido, seria possível
supor que, se Freud tivesse atentado para o termo presente
no texto de Leonardo em sua versão original, teria che- gado a conclusões diferentes. Essas conclusões seriam, no
entanto, igualmente válidas, caso o texto apresentasse a
mesma coerência, o que poderia nos levar a pensar que o
critério de verdade envolvido em uma interpretação feita
em pesquisas aplicadas dessa espécie dependeria mais da
consistência interna dos argumentos do que da relação da
interpretação com o caso concreto.


Se fosse assim, a especulação, desde que bem ar- ticulada, não encontraria qualquer entrave, permitindo
inclusive a introdução de elementos novos que suposta- mente seriam capazes de confirmar os velhos argumen- tos. Tomando este artigo como exemplo, podemos atentar
para as contribuições posteriores de Oskar Pfister que, em
1913, publicaria um trabalho no qual a obra de Leonardo,
ao lado de outros exemplos, é interpretada como uma
“criptografia” inconscientemente determinada (Pfister,
1913/1970, pp. 147-8). Neste texto, ele “confirmaria” a in- fluência do abutre a partir da observação do contorno das
vestes de Maria na obra A Virgem e o Menino com Santa
Ana deixada inacabada pelo artista em 1519, ano de sua
morte. Estes contornos seriam os contornos do próprio
abutre que teria a sua cauda voltada para os lábios do me- nino Jesus, personagem que representaria Leonardo sendo
fustigado pela ave.


Ao trabalhar com um personagem histórico, como
é o caso de Leonardo da Vinci, esta é uma limitação óbvia.
Porém, ainda assim, não deixa de apontar para um obstácu- lo que irá perpassar boa parte dos estudos ditos aplicados
em psicanálise. Freud claramente tinha consciência disso
e, assim como fez em sua análise de Michelangelo, se re- trataria na parte final do texto com as seguintes palavras:


Ainda que o material histórico de que dispomos
fosse muito abundante e os mecanismos psíquicos
pudessem ser usados com a máxima segurança,
existem dois pontos importantes onde uma pesqui- sa psicanalítica não nos consegue explicar por que
razão é tão inevitável que a personagem estudada
tenha seguido exatamente essa direção e não outra
qualquer . . . Temos de reconhecer aqui uma mar- gem de liberdade que não pode mais ser resolvida
pela psicanálise. (Freud, 1910/1989b, p. 122)


Não há dúvidas de que essa margem de erro, apon- tada pelo psicanalista, também se mostra presente em uma
psicanálise clínica. Porém, diferente do que ocorre em uma
psicanálise aplicada, a interpretação que tem lugar na clí- nica pode ser avaliada por outros critérios e não apenas
pela coerência interna do argumento que acompanha a in- tervenção. Uma interpretação em análise não está aberta 
a todos os sentidos, razão pela qual os resultados de uma
intervenção não vêm necessariamente atender às expectati- vas do analista, salvo os casos em que se opera uma suges- tão. O analista não pode guiar suas intervenções seguindo
aquilo que se mostra mais conveniente, conveniência que,
em pesquisas aplicadas, poderia vir inevitavelmente a
guiar o mais idôneo dos analistas.


Nesse sentido, podemos entender que a aplicação
da psicanálise como um meio de produzir conhecimen- to não pode ser vista como um procedimento indubitá- vel, muito embora possa ser realizada de maneira não
desavisada. Os detalhes em mármore do Moisés de
Michelangelo, ainda que possam revelar algo a respeito
do seu criador, são mudos e não se comparam com a vi- vacidade de um lapso a que o psicanalista tem acesso na
clínica. Contrariamente, o reconhecimento de conceitos
psicanalíticos em um contexto aplicado, seja ele uma obra
de arte, um mito ou uma biografia, pode ser um instru- mento para a transmissão da psicanálise, ilustrando em
meio a uma natureza morta aquilo que poderia ser o caso
em sujeitos falantes.

Resultado de imagem para psicanalise movimento
Conclusão
Embora seja incontestável a convocação por parte
de Freud para que as aplicações da psicanálise viessem a
ser expandidas além do seu campo de origem, o mesmo au- tor identifica os pontos por onde passaria a questão relativa
à autenticação desse procedimento. Em resumo, podemos
dizer que os dois problemas fundamentalmente reiterados
por ele dizem respeito, por um lado, à questão do rigor e,
por outro, à questão do valor. 


No que se refere à primeira, fica claro que, ao pen- sar no rigor metodológico desses trabalhos, Freud aponta
para algo que ultrapassa a mera verificação da consistência
teórica dos mesmos, algo que parece não ser acessível se- não a partir de uma experiência muito particular. Nesses
termos, a aplicação da hipótese do inconsciente, que se
encontra no cerne dessa extensão do domínio da psicaná- lise ao campo das humanidades, encontraria limitações
incontornáveis quando realizada em um contexto em que
o sujeito falante dá lugar a um objeto inanimado. Nesses
casos, a projeção ocupa o lugar da transferência e o incons- ciente dá lugar à resistência, situação que acaba levando o
analista ao obscuro campo da interpretação do sentido. É
por essa razão que um procedimento como este envolveria
sempre os riscos da arbitrariedade, da especulação e do di- letantismo, quer dizer, por deixar de colocar o inconsciente
verdadeiramente em cena.


De acordo com o procedimento proposto por Graf
para a aplicação da psicanálise às obras literárias, o analista
deve partir do que se repete na obra de determinado autor,
pois será por meio da análise dessa repetição que o intér- prete poderá chegar ao inconsciente. De fato, como veio
a destacar posteriormente Lacan, é nessa repetição que
Freud apoiou a sua certeza a respeito do inconsciente: “a
função do retorno, Wiederkehr, é essencial. . . . a consti- tuição mesma do campo do inconsciente se garante pelo
Wiederkehr” (Lacan, 1964/1988, p. 50). Ele acrescenta, no
entanto, que Freud “não teria podido ir avante com essa
aposta de certeza se não tivesse sido guiado, como os tex- tos nos atestam, por sua autoanálise”. Isso poderia ser dito
em relação à experiência de Freud com a clínica da histe- ria, experiência que levaria o neuropatologista vienense à
descoberta da transferência e da repetição que marcaria as
formações do inconsciente. Foi, portanto, tomando o in- consciente em ato, e não como uma abstração teórica a ser
aplicada, que a experiência psicanalítica pôde se organizar.
Tal apontamento corrobora a ideia de que o rigor, no que
concerne ao inconsciente, vincula-se mais à relação do pes- quisador com a experiência analítica do que à dimensão
técnica da pesquisa empreendida.


Em vista disso, passando agora para a segunda
questão anunciada, o que avaliza os trabalhos de psica- nálise aplicada, como constatado, por exemplo, no estudo
sobre Gradiva, é seu valor de transmissão. A partir deles
o psicanalista pode expor não só a teoria psicanalítica em
um contexto fictício, como também ilustrar a dinâmica do
trabalho psicanalítico a partir de uma realidade simplifica- da. Nunca saberemos se a interpretação dos sonhos e dos
delírios de Norbert Hanold é ou não correta. Ainda assim,
a exposição desses sonhos e delírios, assim como o traba- lho de análise realizado em torno deles, pode se mostrar
instrutivo, revelando-se como uma espécie de alegoria do
trabalho analítico.


O valor de transmissão desses trabalhos se encon- tra, portanto, condicionado ao emissor, quer dizer, à expe- riência analítica que o sustenta, mas também ao receptor: a
comunidade que virá validar ou não o valor de transmissão
da obra em questão. Nesse sentido, se retomamos a última
referência feita do texto sobre Leonardo, podemos entender
que o encontro com o tal erro de tradução não seria capaz
por si só de desqualificar a análise biográfica de Freud, na
medida em que o seu valor de transmissão permaneceria
inalterado, ainda que o seu valor em termos biográficos
esteja de fato comprometido. Além disso, o encontro com
uma margem não resolvida pela psicanálise, no lugar de
desqualificar sua aplicação, a autentica. Isso porque a ex- ploração da hipótese do inconsciente, no sentido estrito ou
lato da investigação psicanalítica, conduz justamente a um
limite que diz respeito ao real que a distingue de uma de- riva especulativa.


The notion of applied psychoanalysis in the early years of the psychoanalytic movement
Abstract: Taking into account the introduction of psychoanalysis in the scientific context of the second half of the 19th century,
this article aims to discuss the notion of applied psychoanalysis that was supported by Freud and his peers in the first years of 
the psychoanalytic movement. To do so, some essays that are considered by the movement as applied will be referred to, and so
will some contributions of methodological nature, all of them published in this early period of psychoanalysis history. It should
be said that, in this article, the study of primary sources in connection with the related discussion will be given priority.

Keywords: applied psychoanalysis, psychoanalytic method, history of psychoanalysis.

La notion de psychanalyse appliquée dans les premières années du mouvement psychanalytique
Résumé: En tenant compte de l’inclusion de la psychanalyse dans le contexte scientifique de la seconde moitié du XIXème
siècle, l’objectif de cet article est de discuter la notion de psychanalyse appliquée soutenue par Freud et ses pairs dans les
premières années du mouvement psychanalytique. À cette fin, ils seront consultés les travails considérés par le mouvement
psychanalytique comme appliqués, ainsi que des contributions de nature méthodologique, tous publiés au cours de cette
période initiale de l’histoire de la psychanalyse. On remarque que cet article donnera la priorité à l’étude des sources primaires
liées au débat en question.

Mots-clés: psychanalyse appliquée, méthode psychanalytique, histoire de la psychanalyse.

La noción de psicoanálisis aplicado en los primeros años del movimiento psicoanalítico
Resumen: Teniendo en cuenta la inserción del psicoanálisis en el contexto científico de la segunda mitad del siglo XIX, este
artículo tiene el propósito de discutir la noción de psicoanálisis aplicado iniciada, desde principios del siglo XX, por Freud y sus
colegas en los primeros años del movimiento psicoanalítico. Para ello se consultarán los trabajos considerados como aplicados
por dicho movimiento y algunos aportes de carácter metodológico, todos publicados durante este período inicial de la historia
del psicoanálisis. Este artículo dará prioridad al estudio de las fuentes primarias relacionadas con el debate en cuestión.

Palabras clave: psicoanálisis aplicado, método psicoanalítico, historia del psicoanálisis.


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Recebido: 17/02/2014
Revisado: 08/10/2014
12/12/2015
Aprovado: 06/03/2015


NOTAS DE RODAPÉ
1 Em rigor, essa publicação de frequência anual, e que se estenderia até
1925, não poderia ser classificada enquanto periódico, assim como seria
o caso do Anuário. Uma tradução do prospecto dessa coleção se encontra
publicada nas obras completas de Freud (1907/1996b).


2 A escola de Zurique publicou uma série de artigos sobre os fenômenos
de associação, os quais foram reunidos nos dois volumes dos Estudos de
diagnóstico de associação publicados em 1906 e 1907. Dentre eles vale
destacar: “Psicanálise e o experimento de associações” (Jung, 1906), o
qual é recebido por Freud com entusiasmo. Carta de Freud a Jung em 11
de abril de 1906 (citado por McGuire, 1974/1976, p. 43).


3 Ambos são também citados por Freud na segunda edição da sua leitura
sobre o Gradiva (1912/1996h, p. 87). “Der rote Schirm” e “Im gotische
Hause” foram publicados em 1892 e compõem a obra Übermächte. Zwei
Novellen.


4 Tais cartas foram publicadas em Drei unveröffentlichte Briefe (1929, p.
207), na revista Psychoanalytische Bewegung e não confirmam comple- tamente as suposições de Freud.


5 A este propósito ver Hitschmann (1911/1913, p. 145) e Freud
(1914/1996l, p. 45).


http://www.scielo.br/pdf/pusp/v27n1/1678-5177-pusp-27-01-00104.pdf