As Psicoses Ordinárias: A Questão do Diagnóstico em Psicanálise

As psicoses ordinárias: a questão do diagnóstico em psicanálise
Publicado em 29 de January de 2012 por Giselle Falone Marra


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As Psicoses Ordinárias: A Questão do Diagnóstico em Psicanálise

                                                                                       
                                                                                       Edna Rocha Cândido¹
                                                                                       Giselle Falone Marra¹
                                                                                       Uélen Camargo dos Passos²
                                                                                       Wellington Luis Cardoso Bessa²

Resumo

O presente artigo propõe discutir, através do estudo de um caso, o diagnóstico de psicose ordinária, entendida como um tipo de psicose de estrutura subjetiva frouxa e bastante precária simbolicamente, não apresentando delírios ou alucinações, que são os fenômenos elementares da psicose tradicional. Para tanto, analisou-se o caso de uma paciente de 26 anos, segundo grau completo e solteira no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) no ILES/ ULBRA de Itumbiara-Goiás. Objetivou-se responder ao seguinte questionamento: Quais as principais dificuldades em se fazer o diagnóstico de uma psicose ordinária? O pressuposto foi o que a ausência de fenômenos elementares (alucinações, delírios e outros), comuns à psicose, pode causar impedimentos no diagnóstico da psicose ordinária. O estudo teve como objetivo geral, identificar na linguagem da paciente, características que possibilitassem o diagnóstico da psicose ordinária. Os objetivos específicos consistiram em identificar sintomas que diferenciassem a psicose ordinária da neurose, avaliar de que forma a paciente agia socialmente, observar a importância da relação interpessoal para ela e identificar elementos em seu discurso que revelassem a estrutura delirante. Quanto ao método, o estudo realizado caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa interpretativa, articulado pela matriz psicológica psicanalítica, sendo uma pesquisa do tipo estudo de caso documental. A partir dos dados obtidos nas sessões e considerando os principais fatores presentes no discurso da paciente, quatro eixos foram desenvolvidos objetivando um maior entendimento dos seus dados, relacionando-os com a psicanálise lacaniana. Durante os atendimentos, a paciente conseguiu um emprego e iniciou um namoro. 

Palavras-chave: diagnóstico; psicose; psicose ordinária.


Abstract

This article proposes to discuss, through the study of a case, the diagnosis of ordinary psychosis, understood as a kind of psychosis of subjective structure loose and fragile symbolically, not showing delusions or hallucinations, which are the basic phenomena of psychosis. For both, examined the case of a patient 26 years, second degree and unmarried at the center of applied psychology (CPA) in ILES-ULBRA/Itumbiara, Goiás. Porpose respond to the following questions: what are the main difficulties in making the diagnosis of an ordinary psychosis? The assumption was that the absence of elementary phenomena (hallucinations, delusions and others), common to psychosis, can cause impediments for the diagnosis of ordinary psychosis. The study aimed to identify general, in the language of patient characteristics that enable the diagnosis of ordinary psychosis. The specific objectives were to identify symptoms they ordinary psychosis of neurosis, assess how the patient socially, agia observe the importance of interpersonal relationship for she and identify elements in his speech that the structure be delusional. As to the method, the study has been characterised as an interpretative qualitative research, articulated by array psychoanalytic, being a psychological survey of documentary case study type. From data obtained in the sessions and the main factors present in the patient's speech, four axes were developed aiming for a greater understanding of their data, linking them with Lacanian psychoanalysis. During the consultations, the patient got a job and started a dating. 

Keywords: diagnosis; psychosis; ordinary psychosis. 


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1.    Introdução

De acordo com Lira Neto et al. (2010), a Psicanálise é fundamentada em uma espécie de instrumento extremamente relevante capaz de entender o contexto social de diferentes lugares, além de possibilitar a compreensão dos indivíduos em sua singularidade, criando uma harmonia entre a subjetividade e os costumes presentes no agrupamento em que o sujeito está presente. O principal objeto de estudo dessa abordagem é o inconsciente, tendo como precursor para tal temática, Sigmund Freud (1856-1939). Uma das características da descoberta consiste no fato de que essa profunda estrutura da mente definiria o psíquico da pessoa de acordo com suas repercussões.  Além disso, a clínica psicanalítica possibilita àquele que tem interesse em ser atendido, a utilização da palavra e posteriormente, a reedificação de sua história de maneira clara, ou seja, não omitindo dados essenciais de sua personalidade. 
Os autores acima postulam que a diferença da Psicanálise para os demais segmentos terapêuticos é a conceitualização singular de psicopatologia, onde a idéia de normalidade contravém de forma considerável na classificação de determinadas atitudes que para outras abordagens, poderia ser um caso de empenho importante. A tarefa primordial da prática psicanalítica consiste em analisar o sintoma do sujeito, fazendo-o compreender o seu significado e conviver melhor com o psíquico. Para que tal processo tenha sucesso, o profissional fará um espaço de escuta e tentará o estabelecimento de um vínculo transferencial. Diante disso, a psicopatologia nesse contexto fundamenta-se pela idéia de estruturas clínicas, constituindo na forma como o indivíduo percebe a proibição e como isso interfere na cultura. Dando continuidade ao que Freud iniciou, Jacques Lacan (1901-1981) obteve condições de conhecer relevantemente os pressupostos da psicose e apresentar o seu mecanismo, que consiste na foraclusão do Nome-do-Pai (um significante) no registro da simbolização. O indivíduo, em vez de procurar formas de suprir a necessidade que o Outro faz, continua arraigado a ele, constituindo uma relação de continuidade e uma forma alienada em relação aos significantes que dele procede. 
Frederico (2008) relata que Lacan (1957-58), em seu texto “De uma questão preliminar sobre o tratamento possível da psicose” apontava uma ruptura acentuada entre neurose e psicose, no nível de resultados da foraclusão do Nome-do-Pai. 
A autora acima mostra que os fenômenos da psicose precisam ser considerados em sua relação com a estrutura da linguagem determinante no indivíduo com uma estrutura psicótica. Segundo Lacan (1955-56), o psicótico representa uma testemunha aberta dos processos inconscientes, e dessa forma, está situado numa posição que o "coloca sem condições de autenticar o sentido do que ele testemunha e partilhá-lo no discurso dos outros" (p. 153). O neurótico também pode ser definido como uma testemunha de que o inconsciente existe, porém, constitui-se num representante encoberto que é necessário decifrar. Assim, o inconsciente na psicose não é executado a partir de formações inconscientes, mas sim, através do que não obteve simbolização e aparece no real. Na sua construção sobre a psicose, Lacan se interroga de forma relevante sobre a conexão existente entre o indivíduo e o significante e afirma que é desse modo que se tem condições para diferenciar os fenômenos próprios à estrutura psicótica. Esses fenômenos são tratados através do que Lacan irá chamar de fenômenos de linguagem. 
Correia (2010) afirma que é relevante a atenção aos detalhes que possibilitem o diagnóstico para a psicose, levando em consideração não apenas os distúrbios de linguagem, mas características que protagonizam o “campo da amarração/desamarração dos registros RSI” (p. 1). Os profissionais atuantes em análise, conscientes do impedimento de um conjunto harmônico entre o mente e corpo, buscam nas entrevistas preliminares os primeiros sinais para que um diagnóstico seja realizado. Não objetivando rotular aquele que é analisado, eles direcionam seu espaço de escuta para os fenômenos de linguagem, com relevância idêntica tanto em quadros psicóticos quanto neuróticos, não se fixando unicamente para os distúrbios de linguagem. Dessa forma, eles fazem um diagnóstico diferencial com certo grau de dificuldade, mas deixa sua contribuição no processo da transferência e posteriormente, na continuação do processo terapêutico. 
De acordo com Zbrun (2010), alguns questionamentos servem como introdução às discussões, hoje presentes no Campo Freudiano, sobre a temática do diagnóstico que diferencia psicose e psicose ordinária. Como é desencadeada uma psicose? Desde quando se pode afirmar que o sujeito começou a apresentar um quadro psicótico? Nas entrevistas preliminares, quais são as variáveis que indicam esse diagnóstico?  Estas são perguntas com as quais se confronta na clínica frente ao repto de não recuar diante da psicose, como Lacan anuncia, e frente à atividade teórica de raciocinar a psicanálise a começar pelas psicoses, de acordo com Jacques-Alain Miller. 
Miller (2005) apud Zbrun (2010) mostra que a clínica diferencial das psicoses surge porque normalmente, o diagnóstico destas está orientado para a neurose. Para que se diga que a psicose é um dado inicial e o que se chama de normalidade possa ser compreendido como a “superimposição de um sintoma sobre a própria psicose” (p.1), torna-se prioritária essa inversão.  
Miller (2005) apud Zbrun (2010), buscando elucidar o conflito da clínica diferencial, propõe como seu pressuposto uma clínica universal do delírio, que tem como idéia central o fato de que o discurso do sujeito na verdade constitui-se como uma defesa contra o real.
Rosa (2009) mostra que a aparição do termo “psicose ordinária” ocorre em um debate sobre a psicose realizado por psicanalistas unidos ao Campo Freudiano, em conversações feitas entre 1996 e 1998. Entre essas discussões, sobressai a que ocorreu em Arcachon (1997) tendo como tema principal, os casos difíceis ou mesmo que não tinham classificação na clínica psicanalítica. 
Tironi et al. (2008) relatam que o objetivo desses eventos foi o de “pensar o efeito do declínio generalizado do significante Nome-do-Pai na atualidade, questão que se repercute na clínica psicanalítica e nos sintomas contemporâneos” (p. 2). 
Tironi (2010) postula que Miller (2005[1999]) assinala essas conversações como três tempos de elaboração de alguns conceitos de Lacan que, num primeiro segmento, cumpriam sua função como instrumentos clínicos esclarecidos, realçando e articulando os objetos que Lacan deu após o seminário sobre as psicoses. 
Miller (2010) estabelece que “quando a psicose não é evidente, quando ela não parece ser uma neurose, quando não tem a assinatura da neurose, nem sua estabilidade, nem a constância e nem repetição” (p. 13), pode-se dizer que é a psicose ordinária. 
Segundo Paoli (2010), esse tipo de psicose se refere a uma estrutura subjetiva inconsistente e muito fraca simbolicamente, que não mostra delírios ou alucinações, que são os fenômenos elementares da psicose clássica. 
Tironi e Lima (2008) abordam que existem certas características para o diagnóstico inicial que ajudam no reconhecimento dessa psicose.

São fenômenos que pré-existem ao desencadeamento da enfermidade, mas que já estão presentes na estrutura. Por este motivo, requerem um manejo clínico específico a fim de que a psicose não se desencadeie. Podemos citar a estranheza em relação ao corpo próprio, as distorções temporal e espacial, os transtornos concernentes ao sentido e à verdade do sujeito em relação às experiências vividas, a sensação de ausência ou mesmo um laço desregulado com o semelhante. (TIRONI E LIMA, 2008, p. 3).


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As autoras acima ainda postulam que “tais psicoses determinados tipos clínicos que incluem diagnósticos de difícil interpretação. O que tem sido designado de a segunda clínica de Lacan ou então, a clínica dos nós borromeanos” (p. 2), faz com que esses exemplos clínicos tenham classificação sem a necessidade de procurar as categorias de grande reputação, como borderline, neurose narcísica, etc. A segunda clínica beneficia “as modalidades de gozo e as amarrações sinthomatizadas que mantém o psicótico fora do desencadeamento” (p. 2). Dessa forma, as psicoses ordinárias recebem essa nomenclatura por serem habituais, comuns ou mesmo, ordinárias.
Campos et al. (2008) afirmam que a psicose ordinária se exibe sem maiores fenômenos produtivos, não obstante se observe alguma danificação no campo do afeto.  Mesmo esse tipo de psicose sendo freqüente e comum, muitos profissionais de psiquiatria tem dificuldades para fazer um diagnóstico preciso. Por ter traços diferenciais da psicose tradicional, aparece sob novas maneiras de desencadeamento, conversões e transferências. Na estrutura explicada, não se pode saber com certeza absoluta onde é o seu ponto de desencadeamento e nem perceber delírios ou alucinações. Porém, é possível identificar um funcionamento psicótico antecipado do indivíduo sem a presença dos fenômenos elementares. Esse funcionamento pode se apresentar com uma vida problemática, com dificuldades para se adequar à sociedade em que o sujeito está inserido, obstáculos para fixar-se em um trabalho, utilização de drogas, falta de relacionamentos amorosos ou distúrbios de linguagem. 
Tironi e Lima (2008) relatam que os psicóticos ordinários “são pacientes que surpreendem o psicanalista pelo fato de não se apresentarem na forma usual da psicose desencadeada” (p. 2). Algumas características como o delírio sistematizado ou mesmo a certeza absoluta impede consideravelmente que se faça um diagnóstico para a diferenciação de neurose e psicose, assim como Freud solicita no começo de um acompanhamento terapêutico. 
Safatle (2003) mostra que o trabalho recente da clínica das psicoses tem mais força na análise de casos onde o desencadeamento foge do tradicionalismo esperado, indicando para a “possibilidade de psicoses que não tenham a conjunção clássica NP zero (a figura do pai atingida pela forclusão que faria desaparecer a vigência do Nome do Pai) e Fi zero (marca de invalidação do falo e seus efeitos ordenadores)” (p. 320). 
Assim, casos foram identificados onde se manifestava Fi zero sem o aparecimento de Um - pai (terceiro elemento no desencadeamento da psicose); outros onde Fi zero não era acompanhado imediatamente de NP zero, somente mais tarde vindo a se conjugarem os dois termos. Isso levou Jacques Alain Miller a admitir os termos débranchement/ rebranchement (desencaixe/reencaixe) para falar de casos em que esses termos eram preferíveis a déclenchement (desencadeamento). (SAFATLE, 2003, p. 320 e 321). 

Frederico (2008) postula que a elaboração seguinte ao longo desses 30 anos criava uma defasagem ao que se vinha presenciando na clínica. A necessidade de leituras constantes e discussão de obras de Lacan tornaram-se prioritárias. Para que isso fosse possível, vários debates foram feitos, incluindo profissionais engajados na área e fundamentando-se em textos clínicos cedidos pelos próprios participantes. Em 1996, é realizado o primeiro conciliábulo: o de Angers. Questões surgiram mediante ao novo, em especial a surpresa sobre os novos casos da psicose. Na segunda Conversação de Arcachon em 1997, fixou-se para os casos que não se encaixavam nas estruturas existentes, ou seja, os casos difíceis de classificação. Nesse evento, privilegiou-se a troca de idéias e possibilidades, mas não exigiu um resultado comum a todos. Na Convenção de Antibes em 1999, foi-se do caso raro para o habitual, surgindo então, o conceito de "psicose ordinária", buscando acordo comum pelo menos em alguns conceitos.
Mello (2006) mostra que o termo psicose ordinária mereceu uma observação digna de atenção de Bernard Lecoeur (2003), em seu artigo Note sur da psychose ordinarire:

Ordinarius consiste em uma introdução de uma certa ordem. Não aquela que engendra a lei, [...] mas os ditos, desde que tomados como index de trocas de palavras. Assim, o ordinário da psicose poderia visar essa experiência [...] de destacar, a partir de uma certa distribuição dos ditos, um ponto fazendo função de dizer mas sem repartição, única garantia contra a confusão dos sujeitos na língua. (LECOEUR, 2003 apud MELLO , 2006, p.25).  

Frederico (2008) relata que os três encontros traçam uma época de elevação para psicanalistas reexaminarem os conceitos clássicos utilizados no diagnóstico das psicoses, e associá-los tanto com a “pluralização dos Nomes-do-Pai, mostrada por Lacan nos anos sessenta, quanto com as últimas formulações lacanianas, na qual se faz uso dos nós, a partir de uma clínica borromeana” (p. 84). O desejo de mudanças e novas tendências era visível entre os participantes, visto que enfrentavam casos sem os sinais comuns à psicose e a ausência de uma classificação diferenciada, de certa forma, dificultava um diagnóstico preciso. A teoria empregada até então não exibia resultados nestes tratamentos. Dessa forma, a clínica ofereceu subsídios para que houvesse um progresso na teoria.
Laender (2009) estabelece também que esses debates culminaram como um momento próspero para a troca de experiências, resultando no crescimento de uma nova teoria, que está sendo avaliada e já indica brilho e garra, atenta às modificações do seu tempo. Teve uma postura definida diante dos desafios e conseguiu uma reorientação teórica para casos difíceis, que ganharam nomenclaturas e validação, como ocorreu com a “psicose ordinária”. 
Frederico (2008) relata que a “solução standard oferecida pelo Nome-do-Pai é posta pelos participantes lado a lado às soluções radicalmente singulares e artesanais do psicótico para se ordenar na linguagem” (p. 84). O debate é desenvolvido pela apreciação da igualdade do Nome-do-Pai ao sinthoma, equivalência citada por Lacan (1975-76), e confirmada por Miller.  Assim, a psicose ordinária volta ao estudo de J.-A.Miller sobre a "foraclusão generalizada" (p. 84) em que é delineada, iniciando-se com os ensinamentos de Lacan, como uma forma generalista de “foraclusão na própria estrutura da linguagem e, portanto, todo ser falante terá que se haver com um impossível de nomear, utilizando para isto o sintoma” (p. 84). 
Mazzotti (2009) apud Correia (2010) aborda que a psicose ordinária tem de início, um sentido de pouco valor, fundamentado no fenômeno clínico: “ordinária é o contrário de extraordinária” (p. 4). É inexistente um delírio articulado. Pelo contrário, se faz presente o que normalmente, perturba-se com o que não se caracteriza como psicose.
Stevens (2009) apud Lima et al. (2010) postula que a pregnância de alguns indícios pode ser facilitadora para o diagnóstico de uma psicose ordinária, sem a necessidade de um delírio claro ou de alucinações medianas, com as características abaixo: 

Organização do laço social e da identificação, exclusivamente ou principalmente, pelo eixo imaginário: o sujeito se faz o mais semelhante possível aos supostos semelhantes; sentimento de vazio na experiência subjetiva do sujeito, concordando com o que Freud, em Luto e melancolia (1915/1987), declarava a respeito da melancolia psicótica: a identificação ao vazio; presença de acontecimentos de corpo, explícitos nos fenômenos hipocondríacos; ocorrência da errância subjetiva. (STEVENS, 2009 apud LIMA et.al . 2010, p. 56).

Para Correia (2010), o analista, nesses casos, pode impedir o gozo sem moderação do indivíduo, não o pedindo para deitar-se no divã, não instalar-se de modo invasivo, mas intervindo de algum modo em suas determinações. O silêncio do analista estaria à grande distância de uma atitude inerte, mas perto de um ‘vá com calma’ (p. 4). Caso ocorra um gozo sem limites, o profissional seria uma espécie de “pára-choque, um para-gozo, embora algumas vezes seja preciso que a hospitalização desempenhe esse papel” (p. 4). Nem sempre fazer acompanhamento psicoterapêutico é suficiente, visto que o psicótico pode ser atacado por uma impressão forte de inexistência. Essas situações seriam típicas de desenlaces, de desligamentos no que se diz respeito à figura do outro, resultando em uma grande solidão e vazio profundo. 
Miller (2010) mostra que na psicose ordinária, existe um desarranjo no sentimento da vida do sujeito, que pode ser explicada baseando-se na tripla externalidade: social, corporal e subjetiva. Na externalidade social, ou seja, o envolvimento com a realidade nessa psicose, pode-se realizar o seguinte questionamento: Qual é a identificação do sujeito com um encargo social ou com uma profissão? Vê-se o sinal mais evidente na relação negativa do indivíduo com sua identificação social.

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Quando vocês devem admitir que o sujeito é incapaz de conquistar seu lugar ao sol, de assumir sua função social. Quando observam um desespero misterioso, uma impotência na relação com essa função. Quando o sujeito não se ajusta, não no sentido da revolta histérica ou da maneira autônoma do obsessivo, mas quando existe uma espécie de fosso que constitui misteriosamente uma barreira invisível [...] Vocês vêem então às vezes sujeitos indo de uma desconexão social à outra - desligando-se do mundo dos negócios, desligando-se da família, etc. (MILLER, 2010, p. 14 e 15).

Miller (2010) solicita para que se faça uma análise complexa desse fato, visto que pode realmente ser uma psicose ordinária como também, a esquizofrenia. É necessário profundidade no assunto para que a terminologia nova não seja reconhecida como o “asilo da ignorância”.  Além disso, os analistas necessitam de atenção frente às identificações sociais positivas no psicótico ordinário, ocorrendo quando o indivíduo aplica-se relevantemente no seu emprego, na sua posição social, quando possui uma grande identificação com a mesma.
O autor acima estabelece que o desencadeamento da psicose em pacientes psicóticos ordinários ocorre porque, muito freqüentemente, “o trabalho significava bem mais do que um trabalho ou uma maneira de viver. Ter esse trabalho era seu Nome-do-Pai” (p. 16). Atualmente, essa expressão consiste no fato de ser nomeado, de ser atribuído a uma função, de ser nomeado para (p. 16). Dessa forma, o Nome-do-Pai é conquistar uma posição social. 

Ser membro de uma organização, de uma administração ou de um clube pode ser o único princípio do mundo de um psicótico ordinário. Por exemplo, ter um trabalho hoje representa um valor simbólico extremo. As pessoas estão prontas a se estapear por empregos mal remunerados, justamente para ter o valor simbólico de estarem empregadas. (MILLER, 2010, p. 16).

Miller (2010) demonstra que a segunda externalidade, a corporal, se refere ao “Outro corporal, o corpo como Outro para o sujeito – partindo do princípio: “Você não é um corpo, mas você tem um corpo”, como diz Lacan” (p. 16 e 17). Na histeria, há a experiência existem os ensaios de espanto em relação ao próprio corpo; este só existe verdadeiramente na sua cabeça. “No corpo do homem há também pelo menos uma parte do corpo que só existe na cabeça, o pênis. Isso é bem conhecido” (p. 17). No caso específico da psicose ordinária, deve-se perceber algo a mais, principalmente no que se refere ao fato do sujeito acreditar que seu corpo está se desfazendo e então, ele busca elementos artificiais para ter controle sobre si mesmo; como se ele quisesse “prender” seu corpo. 
O autor acima mostra que o impedimento reside no fato de que tudo isso, considerado artificial e que tinha um caráter de anormalidade são vulgarizados hoje.  Os piercings são adornos muito presentes atualmente, assim como a busca pela tatuagem. A moda ganhou inspiração na psicose ordinária. Alguns indivíduos com esse quadro psicótico fazem tatuagens pelo corpo como uma forma de arraigá-lo a si mesmo. Essa pintura que complementa o sujeito funciona como o Nome-do-Pai, ou seja, uma tatuagem ocupar o lugar de Nome-do-Pai no seu envolvimento com o próprio corpo.
Miller (2010) mostra que o sinal mais freqüente da externalidade subjetiva ocorre “na experiência do vazio, de vacuidade, do vago no psicótico ordinário”. (p. 17 e 18). Isso pode ser descoberto em vários casos que envolvam a neurose, porém, na psicose ordinária, procura-se “um índice do vazio e do vago de natureza não dialética” (p. 18). No caso em questão, está presente uma fixidez peculiar desse quadro. É necessário também diligenciar a fixidez da compenetração com o objeto a significando um dejeto. A identificação torna-se não simbólica, porém real, visto que excede o metafórico. O indivíduo pode se converter-se num refugo, descuidando-se de si mesmo de maneira extremistas, em certas ocasiões. Consiste numa identificação real; não obstante, o indivíduo busca a realização do dejeto em relação a si mesmo. Julia Richards, em um de seus casos, comenta as particularidades de uma pessoa com psicose ordinária. O caso mostra um indivíduo que se mostra com a demanda de buscar o restabelecimento dos dez por cento inexistentes em seu ser para que tenha a possibilidade de ser outra vez são. 

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Nessa maneira de se apresentar, podemos ver de entrada que há a sensação de não ser sadio. Ele diz isso de início, pois demanda com uma precisão kernberguiana –Kernberg sabe que os afetos representam cinquenta por cento! Pois bem, esse sujeito sabe que precisa de dez por cento a mais! Suponho que ele é americano! Ele nos dá uma precisão com números. Nessa primeira frase pela qual ele se apresenta, podemos ver seu delírio. Os dez por cento de delírio. “Faltam-me dez por cento!”. Há alguma coisa desviada, que ele atribui a um número. “Faltam-me dez por cento de castração” [risos]. (MILLER, 2010, p. 18 e 19). 

Miller (2010) aborda que o sujeito em questão também se questiona: “Por que haveria um Deus benévolo? Sou sortudo, e isso explica esse sudário funesto, essa paranóia... Eu não deveria me queixar tanto” (p. 19) – indagação referente à figura de Deus. Isso serve também para o entendimento de que essa figura religiosa seria uma espécie de companheiro para o indivíduo. Não interessa se ele afirmou que sua existência acontece como um “sudário funesto” (p.19) – frase que tem a possibilidade de ser indagada também por um sujeito neurótico com traços românticos – porém, de forma clínica, o fato está mais voltado para um quadro psicótico. 
O autor acima demonstra que “as conseqüências teóricas da psicose ordinária vão a direções opostas” (p. 19). Um lado guia a uma afinação da idéia do que vem a ser neurose. Esta é uma estrutura peculiar, “não é um fundo de tela (wallpaper)” (p. 20). É preciso a existência de alguns princípios para se afirmar que a pessoa tem uma estrutura neurótica: que tem apenas uma identificação com o Nome-do-Pai, e não “um Nome-do-Pai” (p.20). São necessários fatos verossímeis de que realmente exista o menos-phi, do envolvimento com a castração, a falta de poder e a impossibilidade. Para que haja a utilização dos conceitos de Freud da segunda tópica, é necessário que haja uma distinção clara entre Eu e Isso e também entre os significantes e os impulsos instintivos; um supereu evidentemente delineado. Porém, se esses fenômenos não são presentes e outros indícios ainda compõem esse quadro, não se pode considerá-lo como uma neurose, pois se refere a outro tipo de estrutura. Dessa forma, o analista é levado a perceber de forma geral, o conceito de psicose.  
Miller (2010) estabelece que o fato de generalizar a psicose representa que o Nome-do-Pai é inexistente. “O Nome-do-Pai é um predicado, sempre é um predicado. Sempre é um elemento específico entre outros que, para um determinado sujeito, funciona como um Nome-do-Pai” (p.20). Ao se afirmar essa idéia, faz-se extinguir a barreira entre psicose e neurose. É uma representação parecida com o fato de se afirmar que todas as pessoas são loucas, resultando na declaração de que todos os indivíduos têm sua maneira particular de delirar. Lacan redige sobre isso no ano de 1978. Claro que essa não é a única forma de classificação, mas de certa forma, a clínica é exatamente assim. 

Você não pode funcionar como psicanalista se não está consciente de que aquilo que sabe, seu mundo, é delirante – fantasístico, podemos dizer, mas fantasístico significa justamente delirante. Ser psicanalista é saber que seu próprio mundo, sua própria fantasia, sua maneira de fazer sentido é delirante. Essa é a razão pela qual vocês tentam abandoná-la justamente para perceber o delírio próprio de seu paciente, sua maneira de fazer sentido. (MILLER, 2010, p. 20). 

Diante desses argumentos, objetivou-se responder ao seguinte questionamento: Quais as principais dificuldades em se fazer o diagnóstico de uma psicose ordinária? Pressupõe-se que a ausência de fenômenos elementares (alucinações, delírios e outros) pode causar impedimentos no diagnóstico da psicose ordinária.
Justificou-se este trabalho por contribuir para o avanço de um estudo científico sobre a questão do diagnóstico das psicoses ordinárias, uma vez que as pesquisas existentes não relatam com clareza sobre tal contexto. Quanto à relevância social, o mesmo possibilita a realização do levantamento de dados sobre os diversos aspectos que poderão confirmar ou não a dificuldade em identificar a presença de tal psicose em um indivíduo. O presente estudo contribui ainda para a formação acadêmica da pesquisadora, pois proporciona a abertura para novos estudos teóricos.
O projeto teve como objetivo geral, identificar na linguagem da paciente, características que possibilitassem o diagnóstico da psicose ordinária. 
Os objetivos específicos consistiram em identificar sintomas que diferenciassem a psicose ordinária da neurose, avaliar de que forma a paciente agia socialmente, observar a importância da relação interpessoal para ela e identificar elementos em seu discurso que revelassem a estrutura delirante. 

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1.1 Metodologia

O estudo realizado caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa interpretativa, articulado pela matriz psicológica psicanalítica, sendo uma pesquisa do tipo estudo de caso documental. A análise do conteúdo trazido pela paciente foi feita baseando-se na literatura da psicanálise lacaniana e estudos sobre os traços que caracterizam a psicose ordinária. Nessa perspectiva, não existe distinção entre a pesquisa e a prática clínica, sendo utilizado o método da livre associação na investigação da queixa em seus aspectos afetivos e funcionais.
Como base nesse referencial, foi analisado o caso clínico de uma paciente com 26 anos, segundo grau completo e solteira. Ela foi atendida no período de setembro a dezembro de 2010, dentro do método psicanalítico. No momento da primeira consulta, ela relatou: “Sou muito nervosa e ansiosa. As pessoas falam que eu tenho problema mental, mas eu não tenho. Quando faço entrevistas para conseguir emprego, sempre perco as chances porque não passo nos testes psicológicos [...] Eu gosto demais das minhas amigas, elas dizem que eu sou muito boa; sofro quando elas sofrem”.



Local e materiais

Os atendimentos aconteceram nas salas do Centro de Psicologia Aplicada da ULBRA, individualmente, que dispunha de duas poltronas, um ventilador, uma mesa, três cadeiras e lenços descartáveis. 
Outros materiais também foram utilizados, tais como: prontuário, fichas próprias do CPA, papel e caneta. 

Procedimentos 

Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A), foram realizadas as análises das 12 sessões, sendo estas divididas em 3 fases. 
Na primeira fase, que consistiu no atendimento da paciente, foram feitas duas sessões de triagem, objetivando possibilitar um diagnóstico e indicação do tratamento. 
Feito o acolhimento da paciente pela estagiária do curso de psicologia na primeira fase do atendimento em novembro de 2010, em sessões com duração de 50 minutos, foi apresentada verbalmente à paciente de que forma o processo terapêutico se desenrolaria, argumentando sobre o sigilo entre terapeuta e paciente segundo as normas estabelecidas pela ética do profissional de psicologia.
Na segunda fase do atendimento psicológico, foi possível a terapeuta realizar a intervenção com pontuações na fala da paciente, a partir da associação livre. A terceira fase do processo terapêutico consistiu em observar se a paciente respondeu ou não ao tratamento, para que ela pudesse continuar ou ser desligada da psicoterapia. As sessões terapêuticas foram realizadas às quintas-feiras, das 17h30min às 18h20min, totalizando doze sessões.
Os registros de informações foram realizados em seguida aos atendimentos, com as impressões clínicas do pesquisado e do pesquisador, pois conforme preconiza o referencial teórico em Psicanálise, não se realiza nenhuma anotação frente ao paciente. Assim, não foram feitas anotações frente ao participante, nem gravados ou filmados os atendimentos. Sendo assim, não foi utilizado nenhum tipo de material dentro do consultório. 
O conteúdo das sessões foi transcrito após os atendimentos, em uma sala separada (destinada aos estagiários), onde o paciente não tem contato com as informações anotadas tanto no prontuário quanto no folhetim da estagiária. 
De acordo com a resolução 0196/96 do Conselho Nacional de Saúde, foram tomados os cuidados éticos previstos, possibilitando ao participante o entendimento dos objetivos do estudo e os esclarecimentos necessários à sua participação ou não na pesquisa.

Análise dos dados

Por meio das transcrições de todas as 12 sessões anteriores, foi realizada a análise do discurso da paciente, relacionando estes dados com a literatura em psicanálise para identificar se na linguagem da paciente, existem características que possibilitem o diagnóstico da psicose ordinária.


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2. Desenvolvimento (Resultados e Discussão)

História Clínica da Paciente

A paciente atendida chama-se L.F.L, possui vinte e seis anos de idade, atualmente trabalha como agente comunitária de saúde, é solteira e reside com os pais e um irmão mais velho. A genitora é secretária do lar e o genitor, servente de obras. Em seu prontuário, algumas notificações puderam ser encontradas, principalmente no que se diz respeito ao fato de que é “muito nervosa, ansiosa e insegura”. Além disso, postulou inicialmente que tanto a família quanto profissionais a consideram “deficiente mental”, situação responsável por sua insegurança e falta de capacidade para encontrar um emprego, segundo a própria paciente. 
Desmembrando fatos de sua infância, a paciente abordou que sempre foi muito sensível e sofria pelos outros. Quando alguém chorava perto, ela também se emocionava. Afirma que sentia uma espécie de “dor no coração”. Ao contar para a mãe o que sentia, esta sempre dizia que estava ocupada e a mandava ir brincar, não oferecendo a atenção esperada. Ainda criança (com aproximadamente cinco anos de idade), ela e a irmã gêmea quase foram estupradas pelo avô paterno e esse ato foi flagrado pela mãe, o que a deixou precavida com as atitudes do sujeito. A avó paterna, ao saber do ocorrido, não acreditou de forma alguma que o cônjuge realizou tal moléstia e até hoje guarda mágoas das netas e ainda continua casada com o autor do caso. 
Quanto à adolescência, diz ter se envolvido com dois rapazes, sendo que o segundo foi o responsável pelo término do namoro. O motivo foi que ele quis ter relações sexuais, mas ela não aceitou. Segundo seus relatos, após essa situação é que começou a falar muito rápido e desenvolver suas lesões: refluxo, gastrite e glaucoma. Ao abordá-la se antes da separação, ela era saudável, afirmou que não, mas sempre foi muito complicada e apegada às pessoas. 
A paciente comentou que não gosta tanto do ex-companheiro, mas lembra de fragmentos do tempo em que estiveram juntos. Demonstra também que não quer se envolver afetivamente com ninguém por enquanto, e tem se ocupado com algumas atividades, dentre elas, as orações, missas, grupo de jovens, leitura de livros espíritas e curso de Informática.

Desenvolvimento Terapêutico Analítico

A partir dos dados obtidos nas sessões e considerando os principais fatores presentes no discurso da paciente, quatro eixos foram desenvolvidos objetivando um maior entendimento dos seus dados, relacionando-os com a psicanálise lacaniana. 


Eixo I: Identificação Social (Trabalho/Profissão)

De acordo com Miller (2010), a partir do contexto profissional, levando em consideração a dificuldade apresentada pela paciente para conseguir um trabalho, pode-se realizar o seguinte questionamento: Qual é a sua identificação com um encargo social ou com uma profissão? Vê-se o sinal mais evidente na relação negativa de L.F.L com sua identificação social.

Quando vocês devem admitir que o sujeito é incapaz de conquistar seu lugar ao sol, de assumir sua função social. Quando observam um desespero misterioso, uma impotência na relação com essa função. Quando o sujeito não se ajusta, não no sentido da revolta histérica ou da maneira autônoma do obsessivo, mas quando existe uma espécie de fosso que constitui misteriosamente uma barreira invisível [...] Vocês vêem então às vezes sujeitos indo de uma desconexão social à outra - desligando-se do mundo dos negócios, desligando-se da família, etc. (MILLER, 2010, p. 14 e 15).


Um aspecto relevante encontrado em sua fala ocorre quando relata que gostaria de trabalhar, mas não consegue passar nos testes psicológicos. Esta expressão repetiu-se por diversas vezes durante o período de acolhimento e nos dois primeiros atendimentos. Em todas as suas entrevistas de emprego, postulou que lhe mostram os resultados dos testes e apontam suas dificuldades relacionadas ao controle afetivo e emocional. A paciente relatou em certa ocasião: “No dia em que fui à empresa C., a moça que estava com as minhas avaliações disse que eu não conseguiria o trabalho porque eu tinha problema e eu não ia conseguir fazer nada [...] Iria me apegar aos funcionários porque sou boa demais”. 
Miller (2010) estabelece que o trabalho para o psicótico ordinário pode significar bem mais do que um emprego ou uma maneira de viver. Ter um trabalho é seu Nome-do-Pai. Atualmente, essa expressão consiste no fato de ser nomeado, de ser atribuído a uma função, de ser nomeado para (p. 16). Dessa forma, o Nome-do-Pai é conquistar uma posição social. 

Ser membro de uma organização, de uma administração ou de um clube pode ser o único princípio do mundo de um psicótico ordinário. Por exemplo, ter um trabalho hoje representa um valor simbólico extremo. As pessoas estão prontas a se estapear por empregos mal remunerados, justamente para ter o valor simbólico de estarem empregadas. (MILLER, 2010, p. 16).
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Eixo II: Organização dos Laços Sociais (Amizades/Relacionamentos/Família)

Entre as indagações de L.F.L, ela sempre comentava sobre os eventos da Igreja, dos quais gosta de participar. Hoje, faz parte de uma equipe denominada Pastoreio, responsável por orações direcionadas aos jovens. Participa das missas todos os domingos e assiste programas religiosos na televisão, relatando que  é “apaixonada em Jesus e católica praticante”.  Esse fato consiste em uma identificação social positiva que a paciente tem perante aos encontros que participa e o empenho considerável com as pessoas com as quais tem contato nesse contexto. 
Miller (2010) relata que os analistas necessitam de atenção frente às identificações sociais positivas no psicótico ordinário, ocorrendo quando o indivíduo aplica-se relevantemente na sua posição social; quando possui uma grande identificação com a mesma.
Em relação às amigas, L.F.L disse que é muito apegada à todas e que já chegou a brigar por ciúmes. Relata que se precisar perde a vida por elas. A paciente diz ter consciência de que é exagerada e que isso a fez muito mal, mas agora tenta controlar essa situação. A sua melhor confidente, V. não quer que a paciente continue católica, e sim, espírita, o que tem a angustiado. Mesmo assim, se for preciso, L.F.L disse que adere ao pedido da amiga, porque a amizade entre as duas é “linda” e não quer perdê-la por esse motivo.
Quanto à família, a paciente afirma que ela e a genitora nunca tiveram uma relação amigável. Ela indagou: “eu e minha mãe não temos diálogo. Ela é seca, mas não é só comigo, com os meus pais e os meus irmãos também [...] Ela trabalha muito e não tem tempo para nada!”. No caso do pai, L.F.L postulou que ele não a ama e que nega a paternidade, pois não aceita de forma alguma que a filha não tenha um emprego até hoje e precise de medicamentos e acompanhamento psicológico. A paciente diz sofrer discriminação por parte da família do genitor.
Ao abordar sobre uma época em que ficou doze meses acamada “sofrendo pelos outros”, afirmou que foi acompanhada por uma psicóloga e um psiquiatra. Ao indagá-la de forma complexa sobre esse período, ela afirmou que os profissionais citados viviam em sua casa e que não “tinha força para nada”; sua mãe ficava “desesperada” ao perceber a situação, deixando a paciente ainda mais fragilizada e impotente para melhoras. O motivo de todo o sofrimento se deve ao fato de que ela se impressionava com qualquer circunstância angustiante, e também com os eventos trágicos (mortes, afogamento, brigas) da televisão. “A vontade de resolver tudo de uma vez”, segundo L.F.L, foi a grande causa de sua amargura.  
Stevens (2009) apud Lima et al. (2010) postula que a pregnância de alguns indícios pode ser facilitadora para o diagnóstico de uma psicose ordinária, sem a necessidade de um delírio claro ou de alucinações medianas, com as características abaixo: 

Organização do laço social e da identificação, exclusivamente ou principalmente, pelo eixo imaginário: o sujeito se faz o mais semelhante possível aos supostos semelhantes; sentimento de vazio na experiência subjetiva do sujeito, concordando com o que Freud, em Luto e melancolia (1915/1987), declarava a respeito da melancolia psicótica: a identificação ao vazio; presença de acontecimentos de corpo, explícitos nos fenômenos hipocondríacos; ocorrência da errância subjetiva. (STEVENS, 2009 apud LIMA et al. 2010, p. 56)

Em uma determinada sessão, a paciente chegou relatando os problemas de suas amigas e também de sua irmã (brigas no casamento). Enquanto falava, sua voz estava alterada, verbalizava muito rápido e passou a mão por diversas vezes no cabelo. Ao conseguir um emprego como agente comunitária de saúde, num primeiro momento, disse que estava gostando, mas depois, afirmou que o trabalho está exigindo demais. A melancolia presente em L.F.L no atendimento foi constante e ela sempre repetia: “Anem, é difícil demais, credo!”.
Um “laço desregulado com o semelhante” (TIRONI E LIMA, 2008, p.3) foi notável, visto que L.F.L não consegue ter amizades onde a delimitação eu - outro está presente. Ela sofre pela angústia alheia e se esquece de si mesma, gerando conseqüentemente, um sentimento de tristeza profunda e incapacidade para lidar com problemas.

Eixo III: Surto* (Identificação ao Vazio)

Tironi e Lima (2008) abordam que existem certas características que auxiliam no diagnóstico da psicose ordinária. No caso da paciente, foi necessário um manejo clínico peculiar objetivando o não desencadeamento de sua psicose, visto que hipoteticamente, existem no sujeito, “fenômenos que pré-existem ao desencadeamento da enfermidade” (p.3) e que fazem parte da sua estrutura. Porém, em um atendimento, L.F.L chegou relatando sobre a perda de memória que teve durante a manhã. Segundo ela, isso aconteceu porque teria supervisão à tarde e por esse motivo, ficou muito nervosa. Não obstante, ela soube que se algo não saísse como o esperado durante o acompanhamento do supervisor, a chance de ser despedida era relevante. Além disso, antes do ocorrido, disse ter recebido uma notícia de que uma de suas companheiras de trabalho estava se separando do marido e seu filho estava doente, o que a fez sentir ainda mais triste. Ficou aproximadamente duas horas sem ao menos lembrar seu nome. Em suas próprias palavras, indagou: “Eu não me lembro de nada, só lembro quando minha colega colocou a mão no meu ombro e disse que eu apaguei”.
Durante o período vespertino, fez seu trabalho junto com o chefe e disse que foi ótimo; não teve nenhuma reação de perda de memória; fez seu trabalho corretamente, deixando-a “aliviada”. 
A psicose ordinária se exibe sem maiores fenômenos produtivos, não obstante se observe alguma danificação no campo do afeto.  Mesmo esse tipo de psicose sendo freqüente e comum, muitos profissionais de psiquiatria tem dificuldades para fazer um diagnóstico preciso. Por ter traços diferenciais da psicose tradicional, aparece sob novas maneiras de desencadeamento, conversões e transferências. Na estrutura explicada, não se pode saber com certeza absoluta onde é o seu ponto de desencadeamento e nem perceber delírios ou alucinações. Porém, é possível identificar um funcionamento psicótico antecipado do indivíduo sem a presença dos fenômenos elementares. Esse funcionamento pode se apresentar com uma vida problemática, com dificuldades para se adequar à sociedade em que o sujeito está inserido, obstáculos para fixar-se em um trabalho, utilização de drogas, falta de relacionamentos amorosos ou distúrbios de linguagem. (CAMPOS et al. 2008)
L.F.L apresenta algumas características citadas acima, visto que ela se sente incapacitada no contexto profissional (mesmo conseguindo um trabalho, diz não conseguir atingir as metas propostas pela supervisora, o que a entristece e provoca “raiva e dor de cabeça”); durante algum tempo, teve medo de se relacionar afetivamente (depois, encontrou um namorado e disse que está na fase de “conhecê-lo melhor”) e distúrbios de linguagem (a forma de falar da paciente dificultou o entendimento pleno do que indagava, mas atualmente, tem realizado um tratamento com fonoaudiólogo). 

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Eixo IV: Manejo da Paciente para a Permanência da Estabilidade

A paciente, por ser muito religiosa e freqüentar instituições do ramo, afirmava que Deus estava com ela em todos os momentos: alegres ou tristes, e que a fé colocada Nele a ajudaria nas piores circunstâncias de sua existência. Miller (2010) aborda que o sujeito pode questionar: “Por que haveria um Deus benévolo? Sou sortudo, e isso explica esse sudário funesto, essa paranóia... Eu não deveria me queixar tanto” (p. 19) – indagação referente à figura de Deus. Isso serve para o entendimento de que essa figura religiosa seria uma espécie de companheiro para o indivíduo. No caso de L.F.L, quando se lamentava demasiadamente, ao final de seu discurso, citava a religião sendo capaz de solucionar os seus tormentos, o que causava certo alívio (na fala, respiração e expressão facial – que indicava um sorriso). Ela dizia: “A gente sofre né, mas com fé em Deus e muita oração, tudo melhora”. 
Frederico (2008) mostra que os fenômenos da psicose precisam ser considerados em sua relação com a estrutura da linguagem determinante no indivíduo com uma estrutura psicótica. Segundo Lacan (1955-56), o psicótico representa uma testemunha aberta dos processos inconscientes, e dessa forma, está situado numa posição que o "coloca sem condições de autenticar o sentido do que ele testemunha e partilhá-lo no discurso dos outros" (p. 153). O neurótico também pode ser definido como uma testemunha de que o inconsciente existe, porém, constitui-se num representante encoberto que é necessário decifrar. Assim, o inconsciente na psicose não é executado a partir de formações inconscientes, mas sim, através do que não obteve simbolização e aparece no real. 
Considerando que a paciente relatou informações “reais”, ou seja, sem a presença de simbolizações comuns aos neuróticos, algumas “construções” foram realizadas no seu caso, baseando-se prioritariamente em sua fala e o modo como enfrenta as adversidades do cotidiano. Em certas verbalizações, houve a possibilidade de levar L.F.L a realizar associações. A primeira ocorreu quando ela relatou que não conseguia atingir a meta no seu trabalho, onde a intervenção foi a de comparar sua situação com a das companheiras, também no mesmo caso. Isso fez a paciente controlar de maneira considerável seu medo em perder o emprego. 
A segunda aconteceu depois das repetidas vezes em que ela disse que se preocupava demais em ajudar as pessoas à sua volta, onde a terapeuta postulou que a preocupação até poderia acontecer, mas dentro dos limites; ajudar apenas com o que se tem condição. Em um primeiro momento, L.F.L concordou, mas continuou sofrendo pelos problemas alheios. 
Depois de sessões posteriores, é que um resultado considerável ocorreu. Outra construção relevante no atendimento consistiu no fato de mostrar à paciente que o fato de ler livros espíritas sendo católica não era motivo para ficar com receio dos “castigos de Deus”, visto que se o conteúdo era interessante e agradável, o abandono desse tipo de leitura seria irrelevante. 
Por diversas vezes, L.F.L falou com uma tonalidade alta e cruzava as mãos de forma rápida ou deslizava os dedos pelo cabelo, quando postulava algo que a contrariasse, e essas ações foram apontadas pela estagiária, como forma de mostrar à paciente suas mudanças abruptas de acordo com os seus relatos. 
Tironi e Lima (2008) relatam que os psicóticos ordinários “são pacientes que surpreendem o psicanalista pelo fato de não se apresentarem na forma usual da psicose desencadeada” (p. 2). Algumas características como o delírio sistematizado ou mesmo a certeza absoluta impede consideravelmente que se faça um diagnóstico para a diferenciação de neurose e psicose, assim como Freud solicita no começo de um acompanhamento terapêutico. A paciente, apresentando essas particularidades, ilustrou de forma relevante a afirmação dos autores acima, visto que sua fala era muito articulada e a dificuldade para perceber a presença de delírio ou não era constante. 
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3. Considerações Finais

A partir de conteúdos teóricos de psicanálise e da prática clínica, o caso em questão hipoteticamente pôde ser classificado como psicose ordinária e seguindo essa linha, a atuação foi baseada nos pressupostos que compõem essa estrutura. Com a associação livre e algumas “construções” no discurso realizadas com a paciente, ela conseguiu se sentir menos incapacitada no contexto profissional, conseguindo um emprego, e também, nas relações afetivas, encontrando um namorado. Além disso, aparentemente não tem sofrido tanto pelo outro, mas tem aceitado suas limitações e agindo de acordo com o seu aprendizado nas sessões.






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