Transferência e Contratransferência

Revista Brasileira de Psicanálise
versão impressa ISSN 0486-641X
Rev. bras. psicanál v.42 n.1 São Paulo mar. 2008


ARTIGOS


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Transferência e contratransferência: a clínica viva



Transferencia y contratransferencia: la clínica viva

Transference and countertransference: the live clinic





Maria do Carmo Andrade Palhares*

Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro

Endereço para correspondência





RESUMO

Neste trabalho, a articulação entre transferência e contratransferência destaca o campo psicanalítico como expressão viva do encontro humano. A abrangência e a complexidade do tema são abordadas na perspectiva de diversos autores psicanalíticos. Da tradição à contemporaneidade, percorremos um vasto território conceitual, ratificando, desde a descoberta por Freud, o vigor desse fenômeno relacional que desafia ativamente a continuidade do processo analítico. Buscamos destacar a vivacidade e a importância do manejo dessa experiência como aspectos fundamentais à manutenção e à expansão da prática psicanalítica no mundo atual. Daí se origina um percurso que vai da ontologia à constituição do psiquismo como questão do humano na modernidade.

Palavras–chave: Transferência; Contratransferência; Ontologia; Psiquismo; Repetição; Manejo.

RESUMEN

En este trabajo, la articulación entre transferencia y contratransferencia destaca el campo psicoanalítico como expresión viva del encuentro humano. En este sentido, lo que abarca y la complejidad del tema lo trata a través de la perspectiva de diversos autores psicoanalíticos. Desde los tradicionales hasta los contemporáneos, recorrimos un basto territorio conceptual, ratificando, desde la descubierta de Freud, el vigor de este fenómeno relacional que desafía activamente la continuidad del proceso analítico. De esta forma, tratamos de destacar la vivacidad y la importancia del manejo de esta experiencia como fundamental para la manutención y la expansión de la práctica psicoanalítica en el mundo actual. De allí se origina un recorrido que va desde la ontología a la constitución del psiquismo como una cuestión de lo humano en la modernidad.

Palavras clave: Transferencia; Contratransferencia; Ontología; Psiquismo; Repetición; Manejo.

ABSTRACT

In this paper, the articulation between transference and countertransference highlights the psychoanalytic field as a live expression of the human encounter. The complexity of the subject is approached from the perspective of several psychoanalytic authors. From tradition to the contemporary, a vast conceptual territory is traveled, ratifying, since Freud’s discovery, the vigor of this relational phenomenon that actively challenges the continuity of the analytic process. We seek to highlight the vivacity and the importance of handling this experience as fundamental for maintaining and expanding psychoanalytic practice in today’s world. From there, a path originates going from ontology to the constitution of the psyche as a human issue in modernity.

Keywords: Transference; Countertransference; Ontology; Psyche, Repetition; Handling.


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 1.

De forma imperiosa, convicta, necessitada, ela me diz:

“Você! Ah, você está a meu serviço!”

Estamos diante de uma criança? Cronologicamente, não. Estamos diante de um adulto cujo olhar infantil reivindica algo primordial: ser atendido em suas necessidades iniciais de vida. O que sou eu para alguém que me apresenta de maneira tão visceral sua procura pelo vínculo humano? A resposta a essa pergunta nos lança nas vicissitudes da prática clínica. E, como toda prática, esta exige, além do conhecimento, manejo: ação terapêutica. Se a psicanálise se coloca como cura pela palavra, como manejar situações difíceis, infantis, regredidas, pertencentes tantas vezes a um período não-verbal? Uma palavra surge com toda a sua força relacional: transferência.

A transferência em si já nos fala de algo vivo. Isso porque ela emerge do contato emocional dos pacientes com a situação analítica. No entanto, hoje sabemos que exatamente o acontecimento transferencial também induz o analista a produzir uma resposta emocional frente ao seu paciente. Considerando essas duas vivências, podemos enunciar a vivacidade do encontro analítico. Para isso é preciso sublinhar que esse encontro enlaça duas pessoas– e esse enlace envolve afetos, sentimentos, vivências inconscientes que vão engendrar mutualidade, o que nos permite dizer: estamos falando de um tratamento que se insere no âmbito da intersubjetividade. Ambos, assim– paciente e analista–, estão irremediavelmente vivos.

Dessa forma, consideramos o efeito da presença de um outro na vida psíquica de cada participante do encontro. Estamos, portanto, não só no domínio do intrapsíquico, mas, observando o efeito causado pelo outro, incorporamos a noção de externalidade como participante das vivências internas. Daí surgem as condições para situarmos uma definição terapêutica da técnica psicanalítica, articulando os movimentos intrapsíquicos e interpsíquicos, inserindo-os num contexto relacional. A dinâmica desses movimentos vai valorizar a problemática da contratransferência, isto é, o trabalho analítico passa a considerar os afetos do analista presentes na situação analítica. Os desafios frente a esses obstáculos vão permitir que analista e analisando busquem, cada um no seu papel e função, superar a prova da análise.

E o que é a prova da análise? A esse respeito, Pontalis escreve:

Qual é o ensinamento que nos traz a psicanálise– e quero dizer a experiência, a prova da análise ou, o que é a mesma coisa, a prova do estrangeiro– ao ponto que se pode tomá-lo por seu ensinamento principal e talvez único? É que o tempo não passa. Conseqüência: a psicanálise não é, não pode ser do seu tempo. Ela não é de um outro tempo, mas de um tempo outro. Ela é anacrônica, ou melhor, segundo o termo de Nietzsche, intempestiva. Ela é indiferente ao “ar do tempo” […] (Pontalis, 1992/1994, p. 95).

Essa revelação pode colocar em choque a afirmação inicial de uma clínica viva. Mas é exatamente na descoberta de um tempo outro, intempestivo, que começamos a desconstruir um presente morto. Morto pela repetição, morto pelo vazio, morto pela ausência de sentido, morto pelo empobrecimento dos projetos. É pela possibilidade de animar, imantar, de atrair o movimento transferencial gerado pela vivência analítica que este presente morto, inanimado, pode vir a se lançar sobre um tempo outro, a se encontrar com um tempo sem medida, cuja vivacidade pode estar numa lembrança, num sonho, numa alucinação e sobretudo numa ação. E muitas vezes, na ação, no agir, nós nos deparamos com todos os odores, cores, fúrias e amores de uma vida humana.

O afeto escancarado não consegue esconder as experiências emocionais vividas ao longo de uma história pessoal. Presentificada e reconhecida no tratamento, essa história vai se desenrolar juntamente com a história do tratamento. Isso quer dizer: as intensidades, a irracionalidade, as reações inadequadas, exageradas, defensivas– tanto hostis como amorosas– são valorizadas como fenômenos que passam a fazer parte da terapêutica desse processo. É carga dupla porque um duplo tempo não linear começa a ser vivido pelo par analista-analisando. Não é uma crônica dos acontecimentos que vai ser empreendida, mas a vivência do acontecimento passado será atualizada, fundindo-se com o tempo analítico. Este é o lugar da intimidade. Isto é o que primordialmente se passa na clínica. Aos poucos, e muitas vezes de repente, o analista está ali na intimidade que pode ter uma criança com a mãe, na intimidade de uma parceria amorosa no seu leito, na intimidade enigmática dos desencontros humanos, freqüentemente dolorosos e terríveis quando vividos no início da experiência de vida. O analista pode ocupar todos os lugares sem sair do lugar, apenas seguindo intimamente os movimentos transferenciais.

Traduzir isso em palavras é muitas vezes antagônico ao que se passa nesse espaço íntimo, uma vez que as palavras engendrariam uma narração que pretenderia tornar as coisas comunicáveis, quando, na verdade, a vivência clínica aponta para algo que não é possível objetivar numa escrita, ou numa apresentação, exatamente pela ruptura, em alguns casos radical, da lógica temporal e espacial. Portanto, se colocada numa linguagem estética, podemos falar de uma ficção-real que mantém os resíduos de uma insuficiência científica para que seja preservado no acontecimento clínico exatamente o que escapa à conceituação teórica, deixando livres os efeitosdiferentes que cada comunicação produz naqueles que lêem ou escutam. São os efeitos que reverberam evocando o inaudito, o incomunicável em cada ser, e que talvez possam restituir esse valioso lugar da intimidade humana. Segundo Pontalis, é como se

aí nos endereçássemos a cada um, a uma parte íntima de cada um, pelo tom, pelo estilo, pela maneira de endereçar o mais essencial de tudo e o mais difícil a transmitir porque é irredutível à linguagem (Pontalis, 2002).

Portanto, a possibilidade de alcance sobre o que se passa na clínica está em manter uma tensão entre o que é partilhável– as palavras que são comuns e as que são singulares, específicas de cada um– e algo que não se compartilha a não ser através da arte, ou da transferência. E que talvez não seja redutível a nenhuma narrativa científica. Há que viver, experimentar; o que se impõe são as forças do acontecimento, o desenrolar da vida.

Nesse desenrolar, a transferência ocorre espontaneamente em todas as relações humanas, já que é incessante este movimento de dentro para fora, de fora para dentro. Logo, a transferência emerge da vida, porque ela vai apontar para um infindável vir-a-ser; nesse sentido ela é estruturante. Na clínica psicanalítica ela passa a ser acolhida como a tradução viva dos vínculos humanos, e é a partir daí que se enraízam a manutenção e a validade do tratamento.

No entanto, exatamente por sua força viva e atuante, o fracasso terapêutico pode acontecer. Aqui nos deparamos com a complexidade da experiência transferencial, que nos revela um acontecimento gauche, canhestro, envolvido em múltiplas sutilezas. Como clínicos, é aí que podemos tropeçar. A própria história da descoberta da transferência nos mostra essa possibilidade. No início, Freud não concebe a transferência como um auxiliar terapêutico; ela é considerada um obstáculo à cura– “uma verdadeira maldição”, diz ele. Em carta ao pastor Pfister, Freud descreve a transferência como a “cruz” do psicanalista.

Posteriormente, no entanto, ela ganha estatuto de função terapêutica, ao ser constatado que, através da transferência, aquilo que não pode ser dito pode ser mostrado. Passamos a viver analiticamente situações paradoxais: o que faz caminhar pode destruir o caminho. Além disso, quanto mais avançamos, maior é o risco de recuo; assume, pois, a regressão, valor de travessia das zonas traumáticas e conflitivas. Algo de específico se apresenta neste tratamento: lá onde poderíamos afogar, é lá que aprendemos a nadar.

Assim, em 1905, diante do fracasso do caso Dora, Freud escreve:

O que são transferências? Elas são novas edições ou fac-símiles de impulsos e fantasias que são despertadas e tornadas conscientes durante o progresso na análise; mas elas têm essa peculiaridade, que é uma característica particular, de que elas substituem alguma pessoa primitiva pela pessoa do médico. Colocando em outras palavras: toda uma série de experiências psicológicas são revividas, não como pertencente ao passado, mas aplicadas ao médico no momento presente. […] Dora atuou um fragmento essencial de suas lembranças em lugar de relembrá-los (Freud, 1905[1901]/1974, p. 133).

O elemento maldito da transferência diz respeito à resistência, visto que, ao provocar o mesmo afeto que forçou o paciente a repudiar seus desejos proibidos, algo se paralisa. O paciente resiste ao se ver confrontado, na análise, com a força dos seus desejos e das suas fantasias inconscientes. Paradoxalmente, avança-se aí onde transferência e resistência coincidem no tempo analítico. É lá onde há resistência, correspondente a este infantil que não tem idade– fora do lugar, fora do tempo–, é lá que brotam, na transferência, as condições de ultrapassagem e passagem para um tempo de mudanças e transformações reais. A raiz infantil, a natureza inconsciente, as vivências emocionais vão engendrar repetições que tornam a clínica psicanalítica uma encenação contemporânea do passado.

A figura do analista, inserida numa das “constelações” psíquicas que o paciente organizou ao longo de suas experiências emocionais, aciona, a um só tempo, transferência e resistência, alavancando a dinâmica do tratamento. O vigor dessa experiência está na conjugação das suas oposições: maldição, cruz, obstáculo, função terapêutica, expressão do essencial. É exatamente a travessia dessas contradições que corresponde, em 1914, a outro pronunciamento freudiano: “não nos surpreendemos suficientemente com a transferência”.Assim, agregamos outro elemento a esse fenômeno: o surpreendente que irrompe na cena analítica, determinando uma qualidade emocional do vínculo analítico com poder de afetar a ambos os participantes.

O percurso do tratamento se move dentro do drama e da trama transferencial, caminhando entre passado e presente, entre obstáculo e função terapêutica, entre alianças e repúdios ao manejo clínico, configurando dificuldades que revelam a singularidade de cada paciente. E aí é que está: o acolhimento a esta singularidade leva o paciente a se sentir reconhecido em sua humanidade.

Luís Claudio Figueiredo vai destacar esse ponto ao abordar a questão da contratransferência:

Aquém das contratranferências no sentido estrito, que são respostas do analista às transferências do paciente, um aspecto essencial da dinâmica do trabalho analítico– embora seja também uma fonte de impasses–, há uma condição da possibilidade de psicanalisar– que se configura como uma contratransferência primordial, um deixar-se colocar diante do sofrimento antes mesmo de se saber do que e de quem se trata. Esta contratransferência primordial corresponde justamente à disponibilidade humana para funcionar como suporte de transferências e de outras modalidades de demandas afetivas e comportamentais profundas e primitivas, vindo a ser um deixar-se afetar e interpelar pelo sofrimento alheio no que tem de desmesurado e mesmo de incomensurável, não só de desconhecido como incompreensível. Todo o psicanalisar, no que implica lidar com as transferências– e outras coisinhas mais– depende desta contratransferência primordial (Figueiredo, 2002, p. 2).

Aqui o analista se vê confrontado com o que Figueiredo vai chamar uma “reserva de alma”. Diz ele: “Nesta reserva de alma residem nossas teorias, nossos desejos, nossa capacidade de pensar, falar, simbolizar e sonhar. Mas aí reside, fundamentalmente, nossa capacidade de ser afetado e interpelado pelo sofrimento” (Figueiredo, 2002, p. 18). Dessa forma, estamos diante de uma ampla disponibilidade em ir sendo junto com o paciente, podendo chegar lá, diante do irreconhecível, do estranho, do absurdo.

Freud, em 1919, em seu texto “O estranho”, nos fala dessas sensações quando nos aproximamos ou contatamos regiões remotas da natureza humana. Talvez toquemos aí, nos enclaves de um modo de ser escondido e nunca encontrado, mas revelador do absolutamente humano de cada um, possibilitando, simultaneamente, a expressão do individual e do universal. No universal nos deparamos com toda a humanidade, descobrindo o viés do todo, do uno, do semelhante. No individual, nos deparamos com o ser e suas circunstâncias, muitas vezes, diante de contingências favoráveis e desfavoráveis, tanto internas como externas. Legitimar essas condições demanda empatia pela engenhosa causa da natureza humana. Isso significa suportar ser tocado, na transferência, pela fúria, pelo amor, pela indiferença, pelo falso, pela repetição, sem que abandonemos o primordial: manter a ligação com o outro, preservar a reserva de alma. Deixar fluir o acontecimento, sem entravá-lo. Difícil! Sobretudo, diante da repetição.

A noção de repetição do passado constitui-se no paradigma da teoria da transferência. Freud, em 1920, no texto Além do princípio do prazer,acrescenta que a repetição se traduz por uma compulsão ligada à pulsão de morte. Para ele, a idéia de repetição conota neurose e patologia, uma impossibilidade de ser e viver diferente no presente, reencenando-se, muitas vezes, experiências dolorosas. Esse reencenar não é determinado pelo prazer, mas pela dor e o sofrimento. É como se algo da experiência infantil estivesse “congelado”, provocando estagnação, apresentando “o mesmo”, o de sempre; não se consegue situar o presente como um vetor existencial a ser conquistado. Algo o entrava de forma insistente e imperiosa. Com isso, paciente e analista, diante das forças da repetição, podem entrar num circuito fechado, e se assim for… Apontam para dificuldades no campo transferencial-contratransferencial, tais como fusões superegóicas, conluios, atuações– um vasto repertório contratransferencial pode ser encenado por parte do analista. Aqui, a pessoa do analista precisa estar ativa e em questão, principalmente para si próprio. É para dentro de si que ele vai se voltar, freqüentando intimamente as fronteiras de suas próprias possibilidades. Só assim conseguirá colocar a contratransferência a serviço do tratamento.

Duas citações são providenciais sobre o papel da repetição ao longo do tratamento. Primeiro, a de José Américo Junqueira de Mattos, referindo-se ao texto de Lagache:

Em seu importante trabalho sobre transferência, Lagache não aceita que a repetição esteja a serviço da pulsão de morte, ou seja, que a repetição seja primária. Com seu brilhante aforismo: necessidade de repetição e repetição da necessidade, postula que, se existe uma necessidade de repetição, ou seja, do desejo em busca de satisfação, este pode entrar em confronto com o ego e mobilizar mecanismos de defesa. Dessa forma, o conflito está entre a necessidade, o princípio do prazer, e a realidade, portanto, é secundária. Seria primária se houvesse uma repetição da necessidade […] indivíduos que interromperam uma tarefa têm tendência ou necessidade de vir a completá-la– frustração, interrupção ou fracasso, intensifica a necessidade de completar a tarefa satisfatoriamente (Mattos, 1995, p. 173-174).

A repetição ganha amplitude e complexidade enquanto fenômeno. Não existe apenas um tipo de repetição: ela pode estar articulada ao desejo em busca de satisfação, mas também se insere numa perspectiva mais regredida, em busca da realização de uma tarefa interrompida, fracassada. No primeiro caso, repete-se na tentativa de elaboração de um conflito. No segundo, repete-se na esperança de um novo encontro objetal que possibilite uma nova oportunidade para o desenvolvimento do self.

A segunda citação é de Pontalis:

No coração da pulsão a repetir não vejo o resultado do entravamento de nossos desejos e nem, em conseqüência, por causa de sua insatisfação, a exigência de retomá-los […] se entravamento existe, é o da própria capacidade de representação […] o que se repete– e não digo o que se rumina– é aquilo que não aconteceu, e que não tendo conseguido advir, não existiu como evento psíquico. Repete-se como se ensaia no teatro, mas na ausência, no vazio de todo texto. Repete-se algo fora do texto, algo de incrustado, e não de impresso […] (Pontalis, 1992/1994, p. 102).

É pela encenação do vazio que se tenta inaugurar a vida. O vazio é a própria necessidade do acontecimento– já que ele não pode ser lembrado nem esquecido, é agido repetidamente. Ao final, diria o poeta Manoel de Barros:“Repetir, repetir– até ficar diferente”. E ficou. Na psicanálise, na clínica, na linguagem; aqui, agora, no texto. Do mundo pulsional encarna um bebê humano com sua força vital em busca de integração.


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2.

Esse movimento em busca de integração se dirige ao ambiente. Lá deve haver alguém que recepcione essa demanda– estamos diante de necessidades que vão engendrar repetição até produzir a integração do self. O diferente está em curso. Se pouco acontece, ou se o excesso acontece, nos deparamos com a possibilidade do vazio, do trauma. Nessas condições, o settinganalítico será convocado a possibilitar ao paciente “viver pela primeira vez aquilo que já foi vivido” (Winnicott, 1955-56/1982, p. 487). Ou seja, as condições do encontro analítico devem favorecer que os sentidos e os significados da vida emocional sejam criados e não apenas revelados. Essa criação torna a noção de holding– sustentação emocional– fundamental para que o paciente experimente a si mesmo como um acontecimento, produzindo a experiência da qualidade de ser como a primeira manifestação da natureza humana. Winnicott verbaliza essa necessidade a partir do olhar de um bebê, ao dizer:

O importante é que o que “eu sou” não significa nada, a não ser que, no início, eu seja juntamente com outro ser humano que ainda não foi diferenciado. Por esta razão, é mais verdadeiro falar em “ser” do que usar as palavras “eu sou”, que pertencem ao estágio seguinte. Não é exagero dizer que a condição de ser é o início de tudo, sem a qual o fazer e o deixar que lhe façam não têm significado (Winnicott, 1966/1988, p. 9).

Assim, ser juntamente com o outro implica condições ambientais favoráveis. Como primeiro passo, é preciso ser atendido por uma mãe que se engaje nas necessidades do filho, validando e reconhecendo sua singularidade. Portanto, algo de específico deve ser considerado: esse engajamento não é invasivo, ele se dá como possibilidade de oferecer ao bebê uma experiência fusional.

Segundo Ogden (1996), “a mãe é uma presença invisível, mas sentida […] sua alteridade é sentida, mas não é levada em conta” (p. 46). Invisível e previsível, no sentido de manter um cotidiano monótono e rotineiro, significando: sustentação emocional, continuidade, permanência, segurança. Os cuidados maternos se constituem como proteção ambiental ao evitar surpresas inassimiláveis para o bebê. Em função dessa sensível adaptação materna, o bebê humano não se dá conta do seu estado de extrema dependência e inquestionável vulnerabilidade. Então, é possível confiar. Expressa-se, aqui, uma maternagem que se põe a serviço da continuidade do ser do bebê, decorrendo daí a constituição de uma subjetividade genuína, diferenciada a partir de si mesma. A descoberta da alteridade se dá em pequenas doses: ser diferente, diferenciado– outro–, surge a partir de pequenos acréscimos diários que se apóiam naquilo que se repete no interior do ser. Na monotonia encontramos espaço para o surgimento das novidades. O settinganalítico reproduz esse ritmo ao longo do tratamento.

Aqui me reencontro com minha paciente. Sua reivindicação era explícita: eu estava a serviço do seu anseio genuíno de vir-a-ser. Dentro desse enfoque, a repetição é uma tentativa de alcançar uma existência real. Sentir-se vivo em sua interioridade é condição primordial.

Na transferência, tudo se passa como se houvesse um presente sem passado. Não existe uma sobreposição temporal entre passado e presente; a vivência analítica se traduz por uma demanda de ações concretas que possam propiciar ao presente a possibilidade de se tornar passado. A linguagem de Winnicott exprime o valor dessa experiência:

Enquanto na neurose de transferência o passado vem para o consultório, neste trabalho é mais certo dizer que o presente volta para o passado e é o passado. Desse modo, o analista é confrontado com o processo primário do paciente no settingdentro do qual este último é validado (Winnicott, 1955-1956/1982, p. 486).

Novamente estamos de volta com a prova da análise. Desta vez, há um movimento temporal que se transforma em algo fundante. É na temporalização do encontro analítico que o vazio de si começa a dar lugar à constituição de um tempo subjetivo vivido como duração de si mesmo. O ritmo das sessões passa a ser organizado pelo paciente, e aí temos: o tempo das sessões, as freqüências, a relação que estabelece com o manejo e com as interpretações, os dias de pagamento, as presenças e ausências dentro e fora do setting. O analista é solicitado a percorrer esse tempo como um momento que resgata os primeiros estados do self. Nessas situações, estamos de frente para o paradigma do adoecer humano.

Hölderlin, o poeta alemão, através de um texto precioso nos dá acesso a quase tudo o que escrevemos até agora. Diz ele:

Deixem o homem imperturbado, desde o berço! Não arranquem o botão bem unido do seu ser, não o arranquem do pequeno abrigo de sua infância! Não façam pouco demais por ele, para não fazê-lo prescindir de vocês, que assim se distinguem dele! Não façam demais por ele para que ele não sinta o poder dele ou de vocês, que assim se distinguem dele! Em resumo: só mais tarde deixem o ser humano saber que existem seres humanos, que existe algo além dele, pois só assim ele se torna humano. O homem, porém, é um deus desde que seja humano. E se ele é um deus, então é belo (Hölderlin, 1797[1799]/2003, p. 83).

Aqui estamos diante do paradigma que enuncia a positividade da vida e da criação. Viver para dar vida ao incriado.

Ferenczi contribui para a expansão do saber psicanalítico ao retornar aos momentos inicias da vida humana. Diz ele:

Penso no período de vida passado no corpo da mãe. Neste estágio, o ser humano vive como parasita no corpo materno. Mal existe um “mundo exterior” para o ser nascente: todas as suas necessidades de proteção, calor, e de nutrição, são asseguradas pela mãe. Ele nem mesmo precisa se esforçar para ter o alimento e o oxigênio necessários, pois mecanismos apropriados encarregam-se de trazer essas substâncias diretamente aos seus vasos sanguíneos (Ferenczi, 1913/1988, p. 76-77).

Vale destacar que Ferenczi, inserido num outro tempo, num outro lugar, endossa as palavras de Hölderlin e aponta para o universal humano, que necessita viver dentro de si mesmo por um período como condição primordial para, aos poucos, dar conta do seu encontro diferenciado com a realidade, atribuindo-lhe, então, sentido e significado. Ferenczi confirma esse ponto de vista ao esclarecer:

Assim, se o ser humano tem uma vida psíquica, mesmo inconsciente, no corpo materno– e seria absurdo acreditar que o psiquismo só se ponha a funcionar no momento do nascimento–, ele deve ter, pelo fato da sua existência, a impressão de ser realmente todo-poderoso […] despojá-lo da onipotência e obrigá-lo a tentar “modificar o mundo externo”, ou seja, efetuar um trabalho […] causa nos bebês uma brutal perturbação advinda à sua quietude (Ferenczi, 1913/1988, p. 77-78).

Hölderlin (1770-1843) e Ferenczi (1893-1933), apesar da distância histórica, da distância contextual, não se distanciam do humano e suas necessidades básicas: imperturbado, deixem-no no início… Só assim todo o resto poderá ser experimentado e vivido em sua complexidade inevitável e infinita. A vivência da experiência de unidade com o universo consolida o sentimento de manter-se unido a si mesmo. Revigora a condição ontológica essencial para que tudo mais possa fazer sentido para o homem: o inconsciente, o desejo, o prazer e o desprazer, o mundo interno e externo, as relações objetais– todo o conteúdo, enfim, constitutivo da vida psíquica. Revigora-se a reserva de alma. Será isto possível na pós-modernidade?

Posteriormente, juntando-se a Hölderlin e a Ferenczi, Winnicott (1896-1971) contribui decisivamente, ao longo de sua obra, para o paradigma da criação. Não se intimida diante dos riscos pessoais e científicos, ao afirmar: “Não é a partir da sensação de ser Deus que os seres humanos chegam à humildade característica da individualidade humana?” (Winnicott, 1968, p. 90).

Aqui nos deparamos com o percurso do humano: precisamos experimentar o divino como pessoa criadora do mundo para, aos poucos, percebermos nossa condição de parte diante da imensidão do mundo. Do infinitamente grande, vamos, gradualmente, nos aproximando do infinitamente pequeno. É como parte oriunda deste mundo “divino” que nos transformamos em singularidade no mundo humano. E será como parte que poderemos contribuir para as mudanças deste mundo. O vértice da singularidade contém a experiência do todo. Nesse sentido, legitima-se a ousadia de seguir adiante perspectivando mudanças e transformações à nossa volta, a partir da disponibilização das vivências interiores: marcas da nossa passagem pelo mundo.


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3.

Mas existem pedras ao longo desse caminho. Drummond agrega texto e espessura a esse caminhar, endossando o tema da repetição ao dizer, insistentemente:

No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra(Drummond, 1930/1999).

E repete, repete… até virar um poema. Acordemos para essa realidade da repetição que, ao carregar em si o passado, o mesmo, ao mesmo tempo visa o novo, o inusitado, o surpreendente, apontando para transformações passíveis de emergir do que está na origem da experiência de cada um. Assim, segundo Pontalis (1990, p. 78), se conjugam repetição e primeira vez. Revelam-se manifestações de fidelidade ao passado visando torná-lo real no presente. Ou, segundo Winnicott (1955-1956/1982, p. 486), visando conquistar, no presente, o direito a ter um passado. Em todos esses movimentos nos deparamos com um agir que busca virar outra coisa. Sendo assim, embora repetido, nada está prescrito: aqui vigora o improviso.

No meio do caminho clínico, existem transferências e contratransferências que podem revirar uma história de vida e engendrar novas perspectivas pessoais. Ou não. Pode dar errado. Sobre isso, Ferenczi acrescenta em seu artigo sobre a “Elasticidade da técnica”:

Em hipótese alguma deve-se ter vergonha de reconhecer, sem restrições, os erros passados. Que nunca se esqueça que a análise não é um procedimento sugestivo, em que o prestígio do médico e sua infalibilidade devem ser preservados a qualquer custo. A única pretensão levantada pela análise é a da confiança na franqueza e sinceridade do médico, e a esta, o reconhecimento sincero de um erro não ameaça (Ferenczi, 1928/1988, p. 307).

Winnicott amplia essa questão quando valoriza os aspectos ambientais e sua relação com o desenvolvimento genuíno do self. Segundo ele, o paciente pode induzir o analista a falhar; na vivência de regressão expressa-se um re-pedido para a correção das falhas ambientais. Nos momentos regressivos, revisitamos experiências não-verbais precoces. Acompanhando intimamente o paciente até essas regiões, a esperança inconsciente faz com que o trauma original irrompa para ser vivido num ambiente de confiança. Daí a falha do analista reproduzir concretamente essas situações traumáticas; se o analista reconhece que falhou, ele experimenta o ponto de vista daquele paciente, e este, ao se reencontrar com seu ponto de vista, estará recuperando seu verdadeiro self, validado por uma presença viva. Assim, para Winnicott o problema não é a falha; ele escreve:

Como analistas, estamos falhando o tempo todo, e as reações de irritação do paciente pelas quais esperamos acabam por acontecer. Se sobrevivermos, seremos usados. São as inúmeras falhas, seguidas pelo tipo de cuidados que as corrige, que acabam por constituir a comunicação do amor, demonstrando o fato de haver ali um ser humano que se preocupa […] Portanto, a tarefa do paciente é provocar condições nas quais a repetida correção das falhas seja um padrão de vida (Winnicott, 1968, p. 87).

O paciente cria a falha no analista. Transferência e contratransferência contracenam o caminho drummondiano: as pedras do caminho percorrido pelo paciente se instalam dentro do setting, dificultando o processo analítico, ao mesmo tempo em que torna vivas, para o par analista/analisando, as experiências repetidamente narradas, ou não. Experiências que convocam o analista a encenar um papel que muitas vezes pode estar referido ao passado ou pode estar no futuro, referido ao anseio pelo vir-a-ser. Nesta compreensão, também o analista precisa ansiar por vir-a-ser, seu percurso existencial deve continuar em aberto para si mesmo.

Talvez isso imprima a marca de um devir para a dupla analista/analisando. Ou seja, ambos continuam a buscar a expansão de sua ontologia– seguir sendo para poder continuar vivo para si mesmo, para o outro e para o mundo. Eis aí o mover-se no encontro analítico: o passado, o acontecimento, a primeira vez, o devir, tudo se torna presente, conjugando todas as temporalidades. Nessa medida, falhar aponta o que pode advir para ser corrigido, significa que o analista experimentou contratransferencialmente o ponto de vista do paciente, validando-o. Isso não será esquecido: tornando-se passado, pode, agora, ser relembrado.

Na poesia de Drummond essa dimensão também se expressa:

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra 
(Drummond, 1999/1930)

A falha do analista favorece a vivência do acontecimento ou da situação traumática. Isso não se esquece, se o reconhecimento da falha leva o paciente para a área de onipotência dentro da qual a experiência foi considerada traumática. Voltar-se para o interior dessa área em condições favoráveis para a criatividade primária, a partir do settinganalítico, pode configurar uma mutação relacional dentro e fora do paciente, ou seja: em si, dentro de si e, simultaneamente, com o outro, ressoando nas suas relações com o mundo.

Ainda bem que no meio do caminho da clínica existem os poetas. Isso porque, seja diante do malogro da realização dos desejos inconscientes, seja diante da demanda de atendimento às necessidades nas regressões severas, experimentamos contratransferencialmente a marca do tempo: o acontecido e o devir do acontecimento. Aqui, afirmamos a positividade da repetição como estilo, e, sendo assim, até um poema pode surgir no meio da desesperança.

O acontecimento transferencial é a prova da análise, não é possível esquecê-lo. Ele é portador do incognoscível: dentro dele revela-se, muitas vezes, para nós, um Prometeu preso às rochas, vendo a vida ser devorada pela estagnação do presente. Sem futuro. O processo analítico talvez consista em ir na direção do tempo para conquistá-lo, ou seja: para se apropriar do presente. De fato, torná-lo vivo e real, expandindo-o até o passado e o futuro, para, enfim, começarmos a empreender o ciclo da vida. Aqui a busca da integração está em curso, expressando-se na tentativa de unir, unir, unir… ligar, ligar, ligar… Nesse movimento a repetição é bem-vinda, pois ela explicita a busca do essencial: o anseio pelo sentido de si na presença do outro.

Visualizamos aqui a valiosa contribuição da psicanálise à sociedade pós-moderna: a consolidação de um processo ontológico repercutindo nos vínculos humanos. Pensar a transferência como pertencente ao campo do não-acontecido em razão da não-integração do ser, do arcaico da história de cada um, pensá-la relacionada ao corpo, ao excesso pulsional, às representações inconscientes, nos coloca diante de uma circularidade temporal infinita que envolve múltiplas compreensões durante o ato analítico. Dada essa abrangência, e sobretudo diante das ameaças ao humano no mundo pós-moderno, amplia-se o alcance do tratamento analítico em benefício da complexidade humana, sem negar seus acertos, seus fracassos, suas incertezas– prosseguindo, primordialmente, na trilha de fecundar nossa reserva de alma.



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Endereço para correspondência 
Maria do Carmo Andrade Palhares 
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro SBPRJ 
Rua Visconde de Pirajá, 303/508– Ipanema 
22411-003– Rio de Janeiro RJ - Brasil 
Tel.: 55 21 2247-8825 2239-2048 
E-mail: mcarmoandrade@gbl.com.br

Recebido em 20.3.2008 
Aceito em 28.3.2008





* Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro SBPRJ.

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-641X2008000100011

PALHARES, Maria do Carmo Andrade. Transferência e contratransferência: a clínica viva. Rev. bras. psicanál,  São Paulo ,  v. 42, n. 1, p. 100-111, mar.  2008 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-641X2008000100011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  26  dez.  2016.