Compulsão alimentar e compulsão sexual


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por Bruno Ricardo Pereira Almeida | Sexualidade


O presente texto é uma pesquisa sobre a literatura dos impulsos e compulsões patológicos. O objetivo é informar sobre duas compulsões especificas sendo elas a compulsão alimentar e a compulsão sexual mostrando aos profissionais da área e pessoas que tenham interesses sobre o assunto tão presente em nosso cotidiano. Utilizamos a abordagem psicanalítica para definir a compulsão, a impulsão, como surgem essas patologias e como são classificadas.


A metodologia utilizada foi o método qualitativo. Os conceitos apresentados são transtorno compulsão alimentar periódica (TCAP), bulimia nervosa (BN), anorexia nervosa (AN), compulsividade sexual, impulsividade sexual e adicção sexual.


Impulsos e compulsões patológicas


Freud acreditava que os instintos são impulsos primários e os outros impulsos são elaborações dos primeiros organizadas ao longo do desenvolvimento psíquico. Em 1915, Freud destacou os seguintes componentes da resposta instintiva:


– A pressão: a essência do instinto é representada por sua energia.


– A finalidade segundo Freud, “a finalidade do instinto é sempre a satisfação, que somente pode ser alcançada pela supressão do estado de estimulação da fonte do instinto”, em outras palavras, este sempre busca uma satisfação.


– O objeto por meio do qual o instinto atinge satisfação.


– A fonte o processo somático do qual se origina o instinto.


Posteriormente, Freud divide os impulsos em duas categorias: instinto de vida (Eros) e instinto de morte (Tanatos) (ABREU; TAVARES; CORDÁS; 2008)


O impulso, para a psicanálise, designa o aparecimento súbito, sentido como urgente, de uma tendência para realizar este ou aquele ato, este se efetuando fora de qualquer controle e geralmente sobre o domínio da emoção; não se encontra nesse conceito nem a luta nem a complexidade da compulsão obsessiva, nem o caráter organizado segundo uma certa encenação fantasistas da compulsão à repetição.


PEREIRA (2012) refere atos impulsivos como resultantes do desequilíbrio entre a força dos impulsos e afetos e a capacidade de modulação do ego e têm a função de aliviar a ansiedade através da descarga pulsional. Nos sujeitos impulsivos, o ego frágil, com pouca capacidade de continência não prospera em conter a demanda pulsional.


Comportamentos compulsivos são resultantes da tentativa do ego em conter a expressão pulsional. A ansiedade gerada pelo movimento pulsional sinaliza ao ego para a mobilização de defesas específicas e, no indivíduo normal, as instâncias psíquicas formariam um acordo no quais ambos os polos do conflito obteriam satisfação parcial. Em sujeitos compulsivos, o conflito intrapsíquico entre o ego e as pulsões provenientes do id não seria de todo solucionado, originando a sintomatologia compulsiva com padrões específicos de manobras defensivas contra a demanda pulsional. (PEREIRA, 2012)


Compulsão alimentar periódica


Os transtornos alimentares mais comuns são o da compulsão alimentar periódica (TCAP). Caracteriza-se pela presença de episódios recorrentes de ingestão de grande quantidade de alimentos em um curto intervalo de tempo, seguido de uma sensação de vergonha, culpa, angústia perante a perda de controle sobre o ato de comer, sobre o que se come e o posterior arrependimento por ter comido (CIENTIFÍCA, 2011)


O TCAP identifica pessoas que apresentam episódios recorrentes de compulsão alimentar durante os quais ingerem, em um período delimitado de tempo, grandes quantidades de alimentos e com sensação de perda de controle. Esses episódios são bulímicos, mas diferentemente do que ocorre na bulimia nervosa, pessoas com TCAP não adotam, de forma sistemática, mecanismos compensatórios inadequados para evitar o ganho de peso decorrente de o excesso alimentar ocorrido no episódio. (PASSOS; YAZIGI; CLAUDINO; 2008)


Obesidade não é critério diagnóstico para TCAP, mas é uma condição clínica que quase sempre acompanha o quadro.


A idade de início do quadro situa-se por volta dos 20 anos, mas pessoas com TCAP buscam tratamento geralmente após os trinta anos de idade; é mais comum em mulheres, embora 1/3 dos afetados sejam homens (AZEVEDO; SANTOS; FONSECA; 2004).


É importante esclarecer que os critérios do DSM-IV, então propostos para o diagnóstico do TCAP, foram assim caracterizados a partir de episódios recorrentes de compulsão alimentar, tais como:


1) ingestão, em período limitado de tempo, de uma quantidade de comida definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria em um período de tempo similar, sob circunstâncias similares;


2) sentimento de falta de controle sobre o episódio. Percebe-se, também, que os episódios de compulsão alimentar estão associados a três ou mais critérios, podendo-se destacar:


I. comer mais rapidamente do que o normal;


II. comer até se sentir incomodamente repleto;


III. comer grandes quantidades de alimentos, mesmo quando não fisicamente faminto;


IV. comer sozinho, por embaraço, devido à grande quantidade de alimentos que consome;


V. sentir repulsa por si mesmo, depressão ou demasiada culpa, após comer excessivamente;


VI. acentuada angústia relativa à compulsão alimentar periódica.


A compulsão alimentar periódica ocorre, pelo menos, duas vezes por semana, num período de seis meses, não estando associada ao uso regular de comportamentos compensatórios inadequados, como jejuns, exercícios excessivos e purgação, qual na bulimia nervosa, em que se verifica a compulsão, como pode ocorrer ligeiramente na anorexia nervosa. (AZEVEDO; SANTOS; FONSECA; 2004)


Há evidências de que pacientes com TCAP ingerem significativamente mais alimentos do que as pessoas obesas sem compulsão alimentar. O TCAP pode ocorrer em indivíduos com peso normal e indivíduos obesos. A maioria tem uma longa história de repetidas tentativas de fazer dietas e sentem-se desesperados acerca de sua dificuldade de controle da ingestão de alimentos. Alguns continuam tentando restringir o consumo de calorias, enquanto outros abandonam quaisquer esforços de fazer dieta, em razão de fracassos repetidos. Em clínicas para o controle de peso, os indivíduos são, em média, mais obesos e têm uma história de flutuações de peso mais acentuada do que os indivíduos sem este padrão (KELNER, 2004)


No tratamento psicanalítico, a atualização dos processos primários exalta o lugar da oralidade alimentar e da imagem da obesidade. É a constituição de um espaço interior que, finalmente, vem assegurar as condições de uma nova imagem narcísica e é a partir daí que o paciente pode encontrar seu regime alimentar equilibrado e as atividades físicas e esportivas que lhe convêm, sem atribuir ao exterior a solução de todas as suas dificuldades psíquicas. (KELNER, 2004)


Anorexia Nervosa


A anorexia nervosa é caracterizada pela perda intensa de peso às custas de dietas rígidas que são auto impostas visando uma busca desenfreada para se atingir a condição de magreza, acompanhada por uma distorção significativa da imagem corporal e com manifestação de amenorreia. (ABREU; FILHO; 2005)


Os principais componentes apontados na literatura que reforçam a busca por um emagrecimento incessante são a baixa autoestima e a distorção da imagem corporal, levando as pacientes a uma prática exagerada de exercícios físicos compulsivos, jejum prolongado ou mesmo o uso de laxantes e diuréticos como uma forma auxiliar para a perda do peso. (ABREU; FILHO, 2005)


Existem dois tipos de diagnostico clinico, o tipo restritivo, as pacientes empregam comportamento restrito a dieta. E o segundo tipo purgativo ocorre compulsão alimentar, com vômitos auto induzidos, uso de laxantes e diuréticos. O CID 10 já não restringe apenas a anorexia, também pacientes anoréticas podem ter bulimia. (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000)


As características psicológicas mais frequentes: (a) baixa autoestima, (b) sentimento pronunciado de desesperança, (c) desenvolvimento insatisfatório da identidade, (d) tendência a buscar aprovação externa, (e) extrema sensibilidade a criticas, (f) falta de assertividade e (g) falta de autonomia e independência. (ABREU; FILHO, 2005)


O diagnóstico da anorexia nervosa é feito segundo os critérios estabelecidos pelo DSM-IV (Tabela I), sendo fundamental afastar doenças de caráter tumoral, hormonal, gastrointestinal, além de certos quadros psiquiátricos, como a depressão e a esquizofrenia (Tabela II). (RIBEIRO; SANTOS, 1998)


Tabela I – Critérios diagnósticos para anorexia nervosa (307-1) – DSM IV:


1 – Recusa em manter o peso corporal, ideal ou acima do peso mínimo para idade e altura.


2 – Medo intenso de ganhar peso ou tornar-se obeso, mesmo se abaixo do peso ideal.


3 – Distúrbios de imagem corporal.


4 – Amenorreia em mulheres pós-menarca (ausência de, pelo menos, três ciclos menstruais consecutivos).


Subtipos:


• Restritivo: restrição dietética.


• Compulsivo/Purgativo: ingestão excessiva/vômitos, laxativos, diuréticos.


Tabela II – Diagnóstico diferencial para anorexia nervosa – DSM IV:


1- Doenças gastrointestinais e consumptivas (AIDS, câncer).


2- Síndrome da artéria mesentérica, superior.


3- Depressão e esquizofrenia. (RIBEIRO; SANTOS, 1998)


Bulimia Nervosa


A bulimia nervosa caracteriza-se por grande ingestão de alimentos de maneira muito rápida e intensa associada a uma sensação de perda de controle – os chamados episódios bulímicos. Que são acompanhados de métodos compensatórios para que o controle de peso seja mantido, isto é, após a ingestão de grandes quantidades de alimento (ao redor de 3.000-4.000 Kcal em um único episódio compulsivo, já tendo sido encontrados episódios com uma ingestão de até 20.000 Kcal), as pacientes se engajam em comportamentos de purgação como vômitos auto induzidos (em mais de 90% dos casos) ou fazendo uso de grandes quantidades de medicamentos (diuréticos, laxantes, inibidores de apetite), dietas e exercícios físicos, abuso de cafeína ou mesmo uso de cocaína. (ABREU; FILHO, 2005)


Os pacientes com Bulimia Nervosa tem uma série de pensamentos e emoções desadaptativos a respeito de seus hábitos alimentares e seu peso corporal. Apresentam uma autoestima inconstante, o que as faz pensar que uma das maneiras mais adequadas de resolver seus problemas é obter um corpo bem delineado e, para alcançar este objetivo, acabam por desenvolver dietas impossíveis de serem seguidas. Em outras palavras, procuram “compensar” um problema subjetivo através da adoção de estratégias imperativas de emagrecimento, resultando em um estado contínuo que chamamos de “montanha russa emocional e suas tentativas de retomar o controle desta flutuação”. Como isto, embora seja muito intenso, não é algo claro, tais pacientes agarram-se à ideia de que estar magra é um dos caminhos mais curtos para obter alguma forma de estabilidade. Creem, assim, que ter o controle de suas medidas lhes proporcionará alguma forma de controle e quietude ao acreditar que “ser magra é o caminho para ser feliz”. (ABREU; FILHO, 2005)


O diagnóstico da bulimia nervosa é feito segundo os critérios estabelecidos pelo DSM-IV (Tabela I), além de certos quadros psiquiátricos, como a depressão e o distúrbio de personalidade (Tabela II). (RIBEIRO, SANTOS, 1998)


Tabela III – Critérios diagnósticos para bulimia nervosa (307.51) – DSM IV


1 – Episódios recorrentes de compulsão alimentar, que pode ser caracterizada por:


a) comer, em período de duas horas, grande quantidade de alimentos;


b) sentimento de perda do controle alimentar, durante o episódio.


2 – Comportamento compensatório para prevenir o ganho de peso: vômitos auto induzidos, abuso de laxativos, diuréticos, enemas ou outras drogas, jejum ou exercícios excessivos.


3 – A compulsão alimentar e comportamentos compensatórios ocorrem duas vezes/semana, por, pelo menos, três meses.


4 – Preocupação excessiva com a forma corporal e o peso.


5 – O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de Anorexia Nervosa.


Subtipos:


• Purgativo: vômitos ou abuso de laxativos, diuréticos e enemas.


• Não purgativo: jejum ou exercícios excessivos.


Tabela IV – Diagnóstico diferencial para bulimia nervosa – DSM IV:


1 – Anorexia Nervosa – tipo compulsivo/purgativo.


2 – Depressão com características atípicas.


3 – Distúrbios de personalidade.


Compulsão sexual


Os termos mais frequentemente utilizados são: Hipersexualidade, Compulsividade Sexual, Impulsividade Sexual e Adicção Sexual. Porém não existe uma terminologia universal da compulsão sexual.


Segundo RODRIGUES (2007) os dados legitimados mais atuais, encontrados em Kaplan & Sadock’s os critérios diagnósticos para as adicções sexuais seguem enumerados abaixo:


1. Padrão de falha recorrente na capacidade de resistir aos impulsos sexuais para engajar-se em comportamento sexual específico;


2. Frequente engajamento nos comportamentos compulsivos por um período de tempo longo e maior do que o pretendido;


3. Persistentes fracassos nas intenções de parar, reduzir ou controlar os comportamentos compulsivos;


4. Excessivo gasto de tempo em obter /praticar sexo ou recorrer a experiências sexuais;


5. Preocupação excessiva com o comportamento sexual ou com atividades preparatórias para o sexo;


6. Frequente engajamento no comportamento compulsivo durante obrigações ocupacionais, acadêmicas, domésticas ou sociais;


7. Continuidade do comportamento compulsivo a despeito de saber estar tendo recorrentes problemas sociais, financeiros, psicológicos ou físicos decorrentes da exacerbação de tal comportamento;


8. Necessidade de aumentar a intensidade, frequência, número e risco do comportamento para alcançar o efeito desejado ou diminuição do efeito obtido quando mantidos os mesmos níveis de intensidade, frequência, número e risco;


9. Aumento da limitação social, ocupacional e atividades recreativas devido aos comportamentos compulsivos;


10. Stress, ansiedade, inquietação ou irritabilidade quando da impossibilidade de realizar o comportamento compulsivo.


Encontramos, nestas e em outras fontes dados relativos aos padrões comumente associados aos quadros de adicção sexual, que são basicamente: a) Sexo fantasioso: excessiva dedicação à fantasiar sexualmente; b) Sexo como sedução: conquista seguida de imediato distanciamento afetivo, busca quantitativa de sexo; c) Sexo anônimo: com estranhos; d) Sexo pago: pagar por sexo; e) Sexo comercializado: vender sexo; f) Sexo voyeuristico: busca obsessiva de estímulo visual, invasiva ou ilícita; g) Sexo exibicionista: exposição sexualizada inadequada; h) Sexo intrusivo: sem consentimento ; i) Sexo com dor: sofrer ou provocar dor / sofrimento para obter prazer; j) Sexo com exploração: assédio / ato sexual com crianças, adolescentes, pacientes, empregados ou pessoas vulneráveis em geral. (RODRIGUES, 2007)


Muitos clínicos usam a categoria de Perturbação Sexual Sem Outra Especificação (SOE) do DSM-IV para diagnosticar o comportamento sexual compulsivo. Do mesmo modo, os indivíduos com compulsividade sexual recebem frequentemente o diagnóstico de Perturbação Obsessivo-compulsiva, com base na presença de pensamentos e comportamentos sexuais repetitivos. (PINTO, 2011).


Existem muitos estudos que apontam para a existência de uma relação entre a compulsividade sexual e algumas dimensões da personalidade, como por exemplo, a alexitimia, a instabilidade emocional e a vulnerabilidade ao stress (PINTO, 2011).


A compulsividade sexual foi definida como um padrão de comportamentos em que existe uma participação em atividades de cariz sexual, de forma crescente e persistente, resultando muitas vezes em consequências negativas para o próprio e para os outros. Nesta definição podem ser incluídos comportamentos que o indivíduo realiza sozinho (masturbação ou uso de pornografia de modo excessivo) ou comportamentos que o indivíduo realiza com outras pessoas (cybersexo, sexo por telefone). Segundo Kafka (2010) os comportamentos sexuais compulsivos geralmente identificados no sexo masculino são a masturbação compulsiva, a dependência de pornografia, comportamentos sexuais com consentimento de adultos, o cybersexo, a escatologia telefónica e a dependência de clubes de strip. Estes indivíduos têm geralmente noção de que os seus comportamentos sexuais são excessivos, todavia são incapazes de controlá-los e consequentemente estes se repetem sem cessar. Os sujeitos relatam também um elevado mal-estar causado pelos pensamentos e pela constante preocupação com atividades sexuais, levando a que muitas vezes as suas escolhas sexuais sejam incongruentes com os seus objetivos e valores pessoais. (PINTO, 2011).




Conclusão


Conclui-se que os termos impulso e compulsão não são sinônimos, e que existe certa divergência na literatura ao dar significado a cada termo. Por critério do grupo foi decido então dar ênfase sobre o que a psicanálise diz respeito.


Quando falamos de transtorno alimentar englobamos anorexia nervosa (AN), bulimia nervosa (BN) e transtorno alimentar compulsivo periódico (TACP) e que por vezes são mais diagnosticados na adolescência e fase adulta, por isso o diagnóstico precoce e uma abordagem terapêutica adequada são fundamentais para um bom prognostico.


Na questão da compulsão sexual foi visto que não existe um termo universal e que frequentemente são classificados como : Hipersexualidade, Compulsividade Sexual, Impulsividade Sexual e Adicção Sexual. Por isso é necessário um amplo diagnóstico vertical, como a psicanálise trata seus pacientes.


E para finalizar gostaria de citar Gilda Kelner: “Atrás da problemática da irrepresentabilidade de que sofrem esses pacientes, com horror ao vazio, aos abismos impenetráveis, às angústias de fragmentação e, ainda, das confusões de lugar, entre dentro e fora, self e não self, real e imaginário, despende-se muito tempo de tratamento para que o processo psicanalítico possa transformar esses “terrores sem nome” em terrores nomináveis e, enfim, narráveis, como referiu Bion.”.


Referências Bibliográficas


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http://www.psicologiamsn.com/2013/05/compulsao-alimentar-e-compulsao-sexual.html