Transferência para Freud

Temas em Psicologia
versão impressa ISSN 1413-389X
Temas psicol. vol.2 no.2 Ribeirão Preto ago. 1994


ANÁLISES CLÍNICAS


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A transferência na clínica psicanalística: a abordagem freudiana





Manoel Antônio dos Santos1

Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto




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INTRODUÇÃO

O presente artigo discute o processo de elaboração do conceito de transferência, formulado por Freud, enquanto construto fundamental que norteou as descobertas que permitiram a articulação da clínica psicanalística. Para tanto, adotamos o ponto de vista apresentado sobretudo nos estudos. A Dinâmica da Transferência, de 1912, Recordar, Repetir e Elaborar, de 1914, e as Conferências Introdutórias sobre Psicanálise, de 1916-1917(2).

Ao demarcar os pontos cruciais da concepção de transferência incluída nestes escritos detemo-nos, na verdade, no exame de uma etapa do pensamento de Freud acerca dos processos transferenciais, que posteriormente sofreriam reformulações, sem no entanto jamais deixar de ocuparem seu lugar enquanto conceitos fundamentais que balizam a construção de todo o conhecimento psicanalítico.

A propósito, é preciso lembrar que a obra freudiana caracteriza-se por reformulações significativas em diversos aspectos teóricos e em conceitos importantes. Assim, do mesmo modo que ocorreu com outras formulações fundamentais da psicanálise, que se desdobraram em várias faces, também a noção de transferência sofreu profundas modificações ao longo da extensa obra de Freud, acompanhando, desse modo, a evolução de toda a teoria.

Ao colocarmos em discussão a questão da transferência, não temos o propósito de realizar uma investigação exaustiva e panorâmica sobre as modificações que o conceito sofreu no decorrer da extensa obra freudiana. Nossa abordagem recai menos no rastreamento histórico do conceito de transferência do que no exame pontual de um determinado período, que talvez abranja a etapa mais profícua de proposição de marcos e postulados definidores da clínica psicanalítica. O presente artigo reflete, assim, o pensamento de Freud a partir de um recorte que operamos dentro dos parâmetros temporais delimitados pelas datas dos textos examinados.

Constatamos, na investigação dessa literatura, que novos elementos afloraram, dando a Freud a chance de criar as condinções de sistematizar uma teoria da técnica analítica que permitisse compreender e articular os fenômenos clínicos suscitados pelo tratamento. Optamos, assim, por um período extremamente fecundo da obra freudiana, em que aparece uma preocupação com o estabelecimento de um sistema conceituai que desse conta não apenas de articular, como também de particularizar a técnica analítica em relação aos demais procedimentos terapêuticos. Estas idéias básicas, sob alguns aspectos, continham algo de tosco. Não apresentavam ainda uma expressão acabada. Nesse sentido, investigá-las ali, in status nascente, não deixa de ser, em certa medida, uma forma de partilhar os momentos de descoberta e consolidação do método psicanalítico.


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O PROCESSO PSICANALÍTICO

Se a psicoterapia, como afirmava Freud (1916-1917a, p.503), é em última instância o que fundamenta a possibilidade de se exercer a psicanálise, precisamos sondar em que bases se assenta "o método com que opera o tratamento psicanalítico e, em linhas gerais, o que este realiza". Após deter-se nos fatores determinantes do adoecer e na reorganização defensiva que entra em jogo depois de o paciente haver adoecido, Freud se interroga sobre a possibilidade de eles darem lugar a alguma influência terapêutica que possa encorajar o neurótico a superar o conflito entre os impulsos libidinais e, assim, recuperar sua saúde psíquica (entendida, aqui, como tornar-se livre da ação inconsciente dos impulsos reprimidos).

O processo de adoecer, que nos indivíduos neuróticos está ligado a uma situação patogênica de frustração - e o subsequente represamento da libido, que vai buscar vazão através do engendramento do sintoma, repousa, segundo a concepção freudiana, no seguinte tríptico: (1) disposições hereditárias, em relação as quais nada podemos fazer para modificá-las, sendo, antes, um nítido limite aos esforços terapêuticos; (2) experiências do início da infância, que por pertencerem ao passado não podem ser anuladas; (3) "frustração real", conceito sob o qual Freud subsume "os infortúnios da vida dos quais se originam a falta de amor, pobreza, dissensões da família, escolha mal feita de um companheiro no casamento, circunstâncias sociais desfavoráveis, e a rigidez dos padrões éticos a cuja pressão o indivíduo está sujeito" (1916-1917a, p.504). Mas também não é neste nível - o das "frustações reais" - que encontramos o ponto a partir do qual nossa influência terapêutica possa ser exercida, porque não se trata de, desde a posição de analistas, operarmos uma recomendação direta ao paciente no sentido de que ele despreze as barreiras e as restrições éticas impostas pela sociedade, a fim de conseguir restabelecer seu equilíbrio psíquico, ainda que se reconheça que este implica desistir da tentativa de "cumprir um ideal que a sociedade exalta, mas ao qual ela tão raramente adere" (1916-1917a, p505). O tratamento, se por um lado almeja de fato que o paciente se torne sadio ao se permitir "viver uma vida sexual completa", por outro lado não pode ser reduzido à função de servir de resistência à moralidade vigente.

Freud, desde muito cedo, descobriu que a repressão oriunda dos mecanismos coercitivos da sociedade só vem intensificar o conflito interno sobre o qual se polarizam forças psíquicas de naturezas distintas: libido versus repressão. Ou seja, uma tendência sexual e uma tendência ascética, que coexistem no interior da personalidade. Mesmo que o analista se posicionasse ao lado de uma destas tendências e a auxiliasse a triufar sobre uma opositora, o conflito não seria solucionado, pois permaneceria atuante no interior do psiquismo, ainda que muitas vezes ao nível latente.

Se vitoriosa a repressão, a tendência sexual suprimida será deslocada para a produção de sintomas, procurando obter algum tipo de gratificação vicária. É o que acontece, de um modo geral, nas neuroses, com sua gênese na repressão do conflito e consequente produção do "núcleo patógeno". Se, ao contrário, triunfar o impulso sexual, as forças repressivas necessariamente serão substituídas por sintomas. Em ambos os casos, a solução enviada pelo indivíduo não seria plenamente satisfatória, à medida que uma parte do conflito ficaria insatisfeita.(3)

Portanto, mesmo que se admita que a moralidade sexual convencional exige sacrifícios que predispõem o indivíduo às neuroses, não é o fato de o analista tomar partido de um dos lados do conflito que poderá decidi-lo. Além do mais, "todo aquele em que o médico poderia exercer tamanha influência, teria encontrado a mesma saída sem o médico" (1916-1917a, p.505). O ponto essencial, então, é que "o conflito patogênico nos neuróticos não deve ser confundido com uma luta normal entre dois impulsos mentais, ambos em mesmo pé de igualdade. Em primeiro lugar, a dissensão se faz entre dois poderes, um deles tendo irrompido até o estádio do que é pré-consciente ou consciente, ao passo que o outro foi mantido reprimido no estádio inconsciente. Por esse motivo, o conflito não pode ser conduzido a um desfecho" (1916-1917a, p.505-506).

O paciente so pode se decidir verdadeiramente quando as forças antagônicas que compõem o conflito se encontrarem em condições de igualdade para que, assim, possam travar sua luta em um mesmo terreno. Para Freud, aí reside a única tarefa que o tratamento analítico pode realizar. O caminho consiste na "tradução daquilo que é inconsciente para o que é consciente" (1916-1917a, p.507). Este trabalho operaria uma retirada progressiva das barreiras (resistências) que mantêm as repressões, e que obstaculizam o acesso aos conteúdos reprimidos. À medida que se suspendem as repressões, removem-se as pré-condições para a formação dos sintomas; desse modo, o conflito patogênico se transforma em "conflito normal", e para este pode ser finalmente encontrado algum tipo de solução.

A modificação psíquica fundamental que o tratamento elicia é, por conseguinte, proporcionar condições para que as forças psíquicas possam, então, confrontar-se diretamente e travar sua luta em um território idêntico: o consciente. Tomar consciente algo que, até então, se encontrava inconsciente, remover repressões e desfazer as barreiras psíquicas que impedem o acesso ao material conflitivo, preencher lacunas de memória de modo a facultar a tarefa de rememoração, todas estas expressões podem ser usadas com um mesmo sentido: marcar a especificidade do trabalho de análise. Elas descrevem o trabalho de liberação das ligações anteriormente interrompidas (por influência dos processos repressivos) entre tendências contraditórias da mente que, de outro modo, não teriam como se enfrentar vis-a-vis. E provavelmente tendo como plano-de-fundo esta concepção que Freud tanto insiste naquele ponto de que a análise não acrescenta nada ao neurótico, mas apenas o libera, isto é, permite ao indivíduo realizar a plenitude de suas potencialidades: "O neurótico realmente curado tornou-se outro homem, embora, no fundo, naturalmente permaneça o mesmo; ou seja, tornou-se o que se teria tornado, na melhor das hipóteses, sob as condições mais favoráveis. Isso, porém, já é muita coisa." (1916-1917a, p.508)

O que Freud designa como "conflito normal" ou "luta normal" concerne à colocação, em um mesmo patamar psíquico, das forças que procuram manter a anticatexia (ou seja, aquelas disposições antigas que, no passado, efetuaram a repressão) e as forças psíquicas prontas a abandonarem a anticatexia (tendências surgidas recentemente, em função inclusive do trabalho de análise). O conflito antigo, que levou à repressão, é desse modo revivido no processo analítico, e o tipo de solução que fora empregado à época pode, então, ser finalmente revisto e até mesmo modificado. Se a decisão tomada anteriormente conduziu à doença, cria-se a oportunidade de que, uma vez adotado um caminho diferente, ele possa levar o indivíduo à recuperação. Para tanto, contribui o fato de que se alteraram significativamente as circunstâncias que imperavam à época em que se efetuou a repressão original do conflito. O ego frágil e imaturo, frente à ameaça representada pelas exigências libidinais, pode mesmo não ter encontrado uma saída mais vantajosa do que aquela que a repressão oferecia. Mas, atualmente, tendo se tornado mais forte e contando com a figura do analista como aliado, o ego pode conduzir o conflito (então revivido) na direção de um resultado mais satisfatório do que aquele auferido no passado, que redundou em repressão. Assim, se desejamos propiciar condições favoráveis para a obtenção de um resultado diferente para o conflito, temos que contar inclusive com o auxílio do lapso de tempo transcorrido entre a emergência das repressões e a época presente.

Percebe-se, também, que a preocupação que norteia o procedimento analítico não é, primariamente, remover os sintomas, mas atacar suas causas. E a origem das neuroses está nas disposições pulsionais, na sua intensidade relativa na constituição psíquica do indivíduo e nos desvios que elas acabam tendo que tomar no curso do desenvolvimento.

A princípio, Freud pensava que a tarefa de substituição do que é inconsciente pelo que se torna consciente resumia-se em descobrir (no sentido de desvelar, remover aquilo que encobre) o material inconsciente, e comunicá-lo diretamente ao paciente. Todavia, logo perceberia que este método induziria o analista a incorrer em um erro primário, uma vez que

"... o nosso conhecimento acerca do material inconsciente não é equivalente ao conhecimento dele; se lhe comunicamos nosso conhecimento, ele não o receberá em lugar de seu material inconsciente, mas ao lado do mesmo; e isso causará bem pouca mudança no paciente. Devemos, de preferência, situar esse material inconsciente topograficamente; devemos procurar, em sua memória, o lugar em que se tornou inconsciente devido a uma repressão. A repressão deve ser eliminada - e a seguir pode efetuar-se desimpedidamente a substituição do material consciente pelo inconsciente. (...) Primeiro, a busca de repressão e, depois, a remoção da resistência que mantém a repressão". (1916-1917a, p. 509)

O procedimento para a remoção da resistência é análogo ao da supressão da repressão: descobrí-la e comunicá-la, via interpretação, ao paciente, já que, na verdade, toda resistência deriva de uma repressão. Ou seja, a resistência é produto de uma anticatexia, topograficamente situada no inconsciente, e que resulta da necessidade de reprimir a pulsão. De um ponto de vista meramente diagramático, pode-se ilustrar esta situação psíquica da seguinte maneira:






A interpretação desvanece a anticatexia responsável pela intromissão da resistencia em meio à tarefa de trazer o impulso inconsciente para o seu reconhecimento consciente. Contudo, ela só é eficaz se encontrar, da parte do paciente, um desejo real de recuperação e o auxílio de sua inteligência. Só assim a resistência pode ser abandonada e as anticatexias retiradas, no momento em que a interpretação facultar ao ego o seu reconhecimento. A interpretação nada mais faz do que fornecer ao ego um ponto de apoio para expandir sua tarefa de traduzir o reprimido.

Contudo, este processo, malgrado os esforços envidados pelo tratamento, vai se deparar com a emergência de um novo obstáculo, à medida que avança.


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A TRANSFERÊNCIA SEGUNDO FREUD

Os esforços empreendidos pelo tratamento dos neuróticos logo se deparam com um "segundo problema":

"... após pequeno lapso de tempo, não podemos deixar de constatar que esses pacientes se comportam de maneira muito peculiar com relação a nós. Acreditávamos, para dizer a verdade, que havíamos colocado em termos racionais, completamente, a situação existente entre nós e os pacientes, de modo que esta pudesse ser visualizada de imediato como sefora uma soma aritmética; não obstante, a despeito de tudo isso, algo parece infiltrar-se furtivamente, algo que não foi levado em conta em nossa soma. Essa novidade inesperada assume muitas formas (...) Constatamos, pois, que o paciente, que deveria não desejar outra coisa senão encontrar uma saída para seus penosos conflitos, desenvolve especial interesse pela pessoa do médico." (1916-1917 a, p.512)

Quando o paciente passa a se interessar por tudo o que se relaciona com a figura do médico, atribuindo a isso por vezes maior importância do que a que demonstra por suas próprias questões, parece se desviar de sua própria doença. Estamos, então, diante de uma relação transferencial.

É este tipo de relação muito especial que sustenta o trabalho de análise. O que garante efetivamente a situação analítica não são tanto os dispositivos proporcionados pelo setting, dos quais Freud tratou em Recomendações aos Médicos que Exercem a Psicanálise (Freud, 1912b) e em Sobre o Início do Tratamento (Freud, 1913), mas a posição simbólica assumida pelo analista no percurso de uma análise. Afinal, o setting nada mais é do que um conjunto de derivações dessa posição interna do analista, que dá consistência ao tratamento. Freud (1913) já havia chamado de certo modo a atenção para este ponto, ao aludir a uma "atitude transferencial no início do tratamento", antes mesmo de discutir mais a fundo os demais aspectos relacionados com a constituição do setting, como a questão do tempo (tempo da sessão, duração do atendimento), dos honorários e outras condições inerentes ao princípio da análise.

No início do tratamento, via de regra, observa-se a emergência de um vínculo muito agradável na situação analítica. O paciente mostra-se entusiasmado com a pessoa do analista, supervaloriza suas qualidades, é amável e reage de modo favorável às interpretações, esforçando-se por compreendê-las e se deixando absorver pela tarefa. A livre associação, assim como o material mnêmico, aparecem em profusão. Além da relação cordial que prevalece durante o trabalho, ocorre uma melhora objetiva em vários aspectos da doença. Estamos em plena vigência de uma transferência positiva. A transferência positiva é um fenômeno que facilita o processo analítico. Torna o paciente mais suscetível à influência do analista por nutrir por ele um sentimento de empatia, respeito, admiração etc, que o faz baixar as resistências e se esforçar por associar livremente.

Esta relação amistosa, entretanto, não pendura indefinitivamente. Logo surgem dificuldades no tratamento, que se revelam de diversas maneiras, refletindo-se na impossibilidade de o paciente continuar seguindo a regra fundamental. Como reconhecer esta resistência ao tratamento? A resposta é: toda vez que aparecem dificuldades de comunicar os pensamentos (isto é, torná-los públicos), interrompendo o processo associativo. Muitas vezes isto surge com a constatação do paciente de nada mais lhe ocorrer à mente, ou de não mais estar interessado no trabalho. De um modo geral, aparece uma certa negligência em relação às instruções inicialmente dadas no sentido de "dizer tudo o que lhe vem à cabeça e de não permitir que obstáculos críticos impeçam de fazê-lo" (Freud, 1917-1916a, p.513). Sempre que nos deparamos com um paciente que se comporta como se estivesse fora do tratamento, estamos diante de uma resistência. Nestes casos, a situação precisa ser esclarecida, do contrário o próprio processo analítico estará em risco.

A causa básica dessas dificuldades, refere Freud, é o paciente ter transferido para o analista seus componentes pulsionais: sentimentos intensos, afetos, enfim, por ter colocado em ato suas disposições internas junto à figura do analista. Como o "bom tempo não pode durar para sempre" (Freud, 1917-1916a, p.513), o tratamento logo esbarra em um ponto não desejado e não provocado intencionalmente, levado pelo tipo de vinculação amorosa que o paciente estabelece com o analista. Mas se este fenômeno se repete tão amiúde, diz Freud, se ele estabelece um padrão de regularidade em cada novo caso, então não há como atribuí-lo a uma "pertubação casual"; é preciso, pelo contrário, postular a existência de um fator objetivo interferindo no tratamento e "reconhecer que estamos lidando com um fenômeno intimamente ligado à natureza da própria doença" (Freud, 1917-1916a, p.515).

Freud percebeu que os sentimentos deslocados em direção à pessoa do analista não podem ser creditados à situação produzida no tratamento per se. Dada a presteza com que esses sentimentos se apresentam na análise, deve-se rastrear sua origem em algum outro lugar: eles já existiam em estado germinal, estavam "preparados" no paciente e, com a oportunidade oferecida pelo tratamento, simplesmente vêm à tona e são desdobrados, a partir desta espécie de pré-programação afetiva que se endereça à pessoa do analista.

A transferência, segundo Freud, pode emergir como um exigência intensa de amor, de atenção, de reconhecinto, ou sob formas mais moderadas: desejo se ser recebido como filho(a) predileto(a), de ser alvo de uma estreita amizade (necessidade libidinal sublimada) etc. Quanto mais crus - isto é, menos sublimados - forem os impulsos transferidos, mais próximos estaremos de uma expressão não elaborada do conflito original, vinculado aos objetos primários, e via de regra impossível de ser satisfatoriamente resolvido.

Freud logo diferencia uma forma de expressão da transferência: a transferência hostil, também chamada de negativa. E assevera que é principalmente com ela que o analista deve se preocupar, porque este tipo de vinculação reflete, de forma direta, a resistência ao trabalho analítico.

Recapitulando o que vimos tratando até aqui: a transferência - não importa que modalidade de relação transferencial esteja em pauta - constitui um fenômeno presente desde o início do tratamento. Comumente, ela corresponde, de início, ao deslocamento de sentimentos amistosos em relação ao analista; nesse sentido, funciona como um poderoso motor do progresso analítico (como de resto de outros tipos de tratamento, que não se propõem a tomá-la como eixo que norteia o processo em direção à cura). Desse modo, não há porque se preocupar, enquanto a transferência age a favor do trabalho. Observamos, assim, que, para Freud, a análise se centra na idéia de transferência positiva sublimada, isto é, aquela reação transferencial apoiada na confiança e na simpatia.

A aliança terapêutica, conceito desenvolvido pelos pós-freudianos (Sterba, 1929; Strachey, 1934; Zetzel, 1956; Greenson, 1965), é um aspecto especial da transferência positiva e relaciona-se com o desejo de colaborar, de trabalhar com determinação e afinco na situação analítica, de seguir adiante apesar das resistências ou da transferência negativa. É o que possibilita ao paciente manter um rapport relativamente racional e não neurótico com seu analista (Greenson, 1965). Sem a confiança na relação, o paciente dificilmente se engaja no tratamento.

Em A Dinâmica da Transferência, Freud (1912) distinguia duas atitudes básicas do analisando: de um lado, a cooperação, e de outro, a resistência. Estas atitudes, que se contrapõem entre si, foram incluídas na transferência. A teoria da transferência em Freud permite, assim, discriminar: (1) uma "transferência positiva sublimada" e (2) as resistências que se alimentam tanto da transferência erótica (quando o vínculo transferencial assume um caráter sexual), quanto da transferência negativa (quando o vínculo transferencial adquire um caráter hostil, seja de um modo aberto ou velado).

No que diz respeito à transferência erótica, Freud a define como uma "inclinação amorosa" que, diferentemente da transferência positiva, torna-se intensa, revelando sua origem localizada em uma necessidade sexual direta, que inevitavelmente produz uma oposição interna a si própria. Esta modalidade particular de vínculo transferencial foi tratada de um modo mais pormenorizado por Freud (1915) em Observações sobre o Amor Transferencial, com seu enfoque sobre o manejo da transferência erótica, bem como sobre o ponto de vista profissional e ético.

Já a transferência negativa reflete o deslocamento de impulsos agressivos em vez de libidinais. Os sentimentos hostis costumam se ocultar por detrás dos afetuosos, e tendem a se revelar mais tarde, embora também se possa encontrar a coexistência de ambos, marcando a ambivalência emocional. Tanto quanto os sentimentos afetuosos, os hostis indicam a presença de um vínculo afetivo, ainda que com um sinal de menos. Eles devem ser considerados transferenciais porque, tanto quanto os impulsos amorosos voltados para o analista, não podem ser creditados à situação analítica. Ou seja, o tratamento não proporciona qualquer fundamento para sua origem.

Como referimos anteriormente, de acordo com o modelo freudiano de 1912 (A Dinâmica da Transferência), a relação transferencial se estabelece como resistência ao trabalho de investigação analítica. Examinando por esse prisma, o paciente tenderia a atuar para não recordar uma experiência infantil reprimida. Isto é, ao colocar em ato o conteúdo reprimido, o paciente entregar-se-ia a um movimento regressivo, inconsciente (a repetição de conteúdos internos, relativos às suas disposições pulsionais) em vez de controlá-lo conscientemente, mediante o recordar. Esta atitude psíquica frente aos aspectos infantis reprimidos promoveria um processo defensivo do ego frente ao analista, que seria então transformado, na transferência, em um representante daquelas tendências pulsionais em relação às quais o ego se opõe. O analista, assim, passa a ocupar este lugar predeterminado na série psíquica do paciente. O trabalho de análise procuraria superar esta resistência de transferência, que obstrui o avanço do processo. Sterba (1929) diz, a propósito, que o analista se encontra em uma situação difícil, pois se converteu no destinatário (objeto) da repetição emocional que o paciente engendra justamente para obstruir as lembranças.

Há, portanto, uma lógica implícita que permeia todo o texto de Freud (1912), e que pode se resumida da seguinte maneira: o indivíduo, de forma não intencional, tende a repetir as escolhas dos objetos amorosos ao longo da vida. Esta repetição deve-se tanto à influência das disposições congênitas, como das experiências afetivas da primeira infância, quando foram moldadas as primitivas formas de satisfação das pulsões. A noção de consciente não consegue dar conta de responder à questão que imediatamente se coloca: por que os objetos amorosos que o indivíduo elege durante a vida são semelhantes entre si? É preciso, então, apelar para um outro conceito, o inconsciente, com suas características peculiares (atemporalidade, amoralidade etc.) e suas próprias leis de funcionamento (o processo primário, marcado pelos mecanismos de condensação e de deslocamento e pela compulsão à repetição).

Para entendermos porque os objetos se repetem, é necessário pensarmos na questão da satisfação libidinal ou, mais especificamente, naquilo que da constituição inicial do sujeito pode estar ligado a esta questão da satisfação pulsional, isto é, aquilo que na história do sujeito se inscreveu como simbolização por ocasião do recalcamento primordial. Como tudo o que é da ordem do inconsciente insiste, aquilo que no campo pulsional não foi satisfeito e ficou reprimido tende a retornar e exigir satisfação. Nesse sentido, é esperado que o paciente, sob as condições favorecidas pelo dispositivo analítico, vá buscar o caminho da gratificação não promovida no passado e tentar resolver suas demandas afetivas insatisfeitas (o reprimido infantil), reatualizando-as perante a figura do analista.

Este não é, evidentemente, o único motivo que impele as pessoas a procurarem análise. Elas procuram também porque têm em suas "séries psíquicas" (no que foi vivenciado tanto em termos de satisfação como de insatisfação pulsional) as experiências de satisfação, que também se repetem na análise. É uma procura de certo modo consciente: o paciente começa a análise porque confia no analista, por exemplo, embora o analista não saiba bem porque, isto é, desconheça em que esta confiança tem a ver com a sua inclusão em uma série psíquica do paciente. Embora o analista não saiba, de início, em que ponto da série psíquica do paciente ele está sendo incluído, sabe que, de qualquer modo, é preciso ser incluído em determinada posição para que possa articular posteriormente as séries psíquicas do paciente com as séries analíticas. Isto é, colocar em movimento as demandas do paciente e vinculá-las às exigências e metas próprias do tratamento analítico.

Além disso, o analista, segundo Freud (1916-1917a), deve estar atento às seguintes questões relacionadas ao movimento transferencial: onde surge a transferência, que dificuldades ele impõe ao trabalho de análise, como podemos superar tais dificuldades e que vantagens podemos auferir desta situação? Como regra geral, propõe Freud que o analista não ceda às exigências do paciente, decorrentes da transferência, nem as rejeite de modo brusco ou indignado. O analista procura superar a transferência através da interpretação, mostrando ao paciente que a origem de seus sentimentos não está na situação atual, nem se aplica à pessoa do analista, tratando-se, antes, de uma repetição de algo pertencente ao seu passado, graças à influência da regressão. Desse modo, esta repetição pode ser finalmente transformada em lembrança (Freud, 1914), dentro do esquema: repetir (movimento inconsciente), recordar e elaborar (movimento consciente). Frequentemente o processo de recordar, em termos psicanalíticos, é referido como sinônimo de rememorar, esquecendo-se de que, etimologicamente, recordar conserva um outro sentido: o surpreendente significado de volta ao coração (re-cordis). Dessa maneira, o analista passa a instrumentalizar a transferência mediante o recurso da interpretação.

Nota-se, aqui, uma mudança importante no pensamento freudiano: a transferência, seja ela amorosa ou hostil, que antes parecia servir exclusivamente à resistência e, nessa medida, constituía uma ameaça ao tratamento, torna-se então "seu melhor instrumento" (Freud, 1916-1917a). A técnica de tratamento consiste na descoberta do material reprimido (isto é, não recordado) através das associações livres do paciente e da interpretação (dentro da transferência) das resistências, a fim de torná-las conscientes ao paciente (Freud, 1914). A resistência é vista como condição inerente ao tratamento psicanalítico e o manejo da transferência é a arma que o analista dispõe para reprimir a compulsão à repetição.

Observamos, assim, que a doença não estanca, não paralisa sua evolução uma vez iniciado o tratamento. Quando o dispositivo do tratamento está plenamente instalado, e sua influência é decisiva sobre o paciente, um outro importante fenômeno ocorre - a doença começa a convergir para um único ponto: a relação com o analista. As recordações do paciente cedem sua proeminência para os aspectos transferencias. O analista passa a ocupar um lugar dentro das séries psíquicas do paciente. Já não se trata da neurose anterior do paciente, mas de uma neurose recente, criada na e pela situação analítica, e que assumiu o lugar da antiga doença. É evidente que esta lhe serviu de matéria-prima, condicionando suas feições básicas. O importante aqui é que, nessa nova edição, o analista desempenha um papel fundamental e, até mesmo, constitutivo, por se situar no seu próprio centro da situação, dado que ele é objeto desta neurose. Daí porque se trata de uma neurose de transferência (e porque só se pode fazer uma análise a dois). O analista está apto a observá-la meticulosamente.

"Todos os sintomas do paciente abandonam seu significado original e assumem um novo sentido que se refere à transferência (...) Mas dominar essa neurose nova, artificial, equivale a eliminar a doença inicialmente trazida ao tratamento - equivale a realizar nossa tarefa terapêutica. Uma pessoa que se tornou normal e livre da ação de impulsos instintuais reprimidos em sua relação com o médico, assim permanecerá em sua própria vida, após o médico haver-se retirado dela". (Freud, 1916-1917a, pp. 517-518)

Transferir é uma capacidade humana por excelencia, presente não somente na relação analítica, mas em inúmeras outras situações de interação social. Contudo, sua expressão torna-se mais vívida e, portanto, evidente, no seio da situação analítica, devido à própria maneira como esta é montada. Esta questão foi discutida, embora não exaustivamente, por Freud. Em A Dinâmica da Transferência, Freud (1912, p. 133) propõe-se a "explicar como a transferência é necessariamente ocasionada durante o tratamento psicanalítico". E, páginas adiante (Freud, 1912, p. 135), confessa não compreender "porque a transferência é tão mais intensa nos indivíduos neuróticos em análise do que em outras pessoas desse tipo que não estão sendo analisadas". Em seguida, com uma frase que parece fechar um raciocínio, Freud (1912, p. 136) concluiu que as "características da transferência, portanto, não devem ser atribuídas à psicanálise, mas sim à própria neurose".

O padrão que o paciente imprime à sua transferência com o analista é determinado por sua neurose, sendo, aliás, um componente da mesma. Daí a importância da inclusão da transferência dentro do quadro teórico geral da formação dos sintomas neuróticos, que proporcionam satisfações substitutivas para os impulsos libidinais reprimidos. A transferência proporciona um dispositivo mediante o qual se pode operar a canalização e concentração destes impulsos para o interior da relação que o paciente estabelece com o analista. A relação transferencial logo se converte em um "poderoso estímulo que influenciará sua decisão no sentido que desejamos" (Freud, 1916-1917a, p. 518), isto é, no sentido de enfrentar o conflito normal, com as suas resistências(4). Do contrário, o paciente poderia facilmente recair na "repetição do resultado anterior" (a solução anteriormente conferida ao conflito), e tudo aquilo que pôde ser pacientemente trazido à consciência pelo trabalho analítico cairia por terra e novamente deslizaria para o inconsciente, sob a força da repressão.

Nesse ponto, diz Freud (1916-1917), não é a compreensão intelectual (o insight) que é decisiva, mas unicamente a relação com o analista. Caso se esteja sob uma transferência positiva, o paciente reveste o analista de autoridade e atribui alguma credibilidade às suas comunicações. O acesso se dá a partir do aspecto intelectual, mas se completa apenas quando é possível a contrapartida libidinal, à medida que o paciente se mostre capaz de operar uma catexia libidinal de objetos e tome o analista como um novo objeto de seus desejos. Notamos, assim, que, para Freud, a transferência envolve sempre um deslocamento da libido dos objetos originais do passado para a figura do analista, uma operação evidentemente inconsciente e que obedece à noção da compulsão à repetição - o paciente repete na transferência as situações reprimidas no passado como algo efetivamente pertencente ao presente.

O desenvolvimento da neurose de transferência marca um ponto decisivo na relação analítica, e provavelmente só se viabiliza no momento em que a repressão já se encontra de certo modo abrandada, em decorrência do processo terapêutico, de modo que o paciente possa dirigir as catexias libidinais (que escapam da restrição imposta pelos mecanismos repressivos) à pessoa do analista. Este fenômeno representa "apenas um aumento extraordinário dessa característica universal" (Freud, 1916-1917a, p. 519) que é a transferência. Extradordinário porque esse traço humano muito difundido, que tem suas raízes na sexualidade e na regressão da libido, concentra-se exageradamente sobre uma única personagem - o analista, que se converte assim em alvo maciço dos investimentos libidinais do paciente. Ainda que tenha um caráter universal, a transferência funciona, no âmbito do tratamento psicanalítico, como uma lente única, que permite ao analista ampliar uma determinada situação psíquica e assim observar, de uma maneira privilegiada, fenômenos psíquicos microscópicos, que normamelmente não podem ser identificados a olho nu.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS, À GUISA DE CONCLUSÃO

Conforme havíamos salientado na Introdução deste artigo, à medida que atravessamos a obra freudiana podemos constatar, ao longo desse percurso, inúmeras reformulações significativas operadas em diversos aspectos teóricos e conceituais. Como ocorreu com outras noções fundamentais da psicanálise, a concepção de transferência também sofreu profundas modificações no decorrer do desenvolvimento da obra de Freud, acompanhando a evolução de todo o aparato teórico e conceitual.

Optamos por trabalhar, no âmbito deste estudo, com as noções contidas em artigos que basicamente delimitam um período deste percurso teórico, ou seja, aquele compreendido entre os anos de 1912 e 1916-1917. Por conseguinte, o presente estudo abrange a fase anterior à reformulação que culminou com a proposição da pulsão de morte, em 1920 (em Além do Princípio de Prazer), e da 2a tópica, em 1923, consubstanciada por Freud em O Ego e o Id. Assim, com o desenvolvimento teórico posterior, diversas mudanças fundamentais foram empreendidas em relação a algumas das concepções descritas nos artigos analisados, como a substituição da teoria tópica do aparelho psíquico pela teoria estrutural, a formulação da pulsão de morte e a reformulação da teoria da angústia. Essas alterações implicaram revisões profundas da ótica freudiana relacionadas aos processos emergentes na situação de análise, inclusive as reações transferenciais, o que alterou até mesmo as suas expectativas com relação às ambições terapêuticas da psicanálise, como se observa em Análise Terminável e Interminável (Freud, 1937).

Esta obra de 1937 foi um dos dois últimos artigos estritamente psicanalíticos de Freud publicados em vida, quando já eram decorridos vinte anos desde a publicação de seu último trabalho puramente técnico. O principal exame anterior do funcionamento da terapia psicanalítica fora empreendida nas Conferências XXVII (1916-1917a) e XXVIII (1016-1917b) das Conferências Introdutórias sobre Psicanálise. Retornaria ao assunto, embora de forma muito mais breve, na última parte da Conferência XXXIV das Novas Conferências Introdutórias (1933[1932]),

Análise Terminável e Interminável (1937) apresenta divergências importantes com relação a estes artigos predecessores. É uma obra de certo modo impregnada pelo pessimismo quanto à eficácia terapêutica da psicanálise, acentuando constantemente suas limitações - que constituem, a bem da verdade, seu tema principal.

Freud insiste ainda nas dificuldades do procedimento e nos obstáculos que se interpõem em seu caminho. Entretanto, não há nada de novo nisso. Freud sempre se mostrou consciente das barreiras ao sucesso da análise, e sempre se prontificou a investigá-las, além do que sempre deu importância aos interesses não terapêuticos da psicanálise - o que, diga-se de passagem, ia ao encontro de suas preferências pessoais, especialmente no último período de sua vida, quando o cientista preponderou sobre o terapeuta.

O que parece surpreender mais no trabalho de 1937 é o exame da natureza e a longa exposição das causas subjacentes a estas dificuldades com que o psicanalista se defronta em seu ofício, e que acabam sabotando suas ambições terapêuticas. Freud enfatiza os fatores de natureza fisiológica e biológica, em geral refratórios às influências psicológicas (enquadram-se aqui a relativa força constitucional das pulsões e a relativa fraqueza do ego, devido a causas fisiológicas como a puberdade, a menopausa e a doença física). Porém o fator impeditivo mais poderoso de todos, que se situa além de qualquer possibilidade de controle, é a pulsão de morte, que não seria apenas responsável por grande parte da resistência encontrada na análise, como também a causa suprema de conflito mental (Freud, 1931). Porém, isto não precisa necessariamente ser interpretado como um sinal de que Freud estaria pessimista no ocaso de sua vida. O que há de diferente é que ele, no final de sua obra, deu maior ênfase do que a que habitualmente dispensara aos fatores constitucionais, incluindo-os definitivamente entre as resistências mais arraiagadas ao progresso terapêutico.



Referências Bibliográficas

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(1) Núcleo de Ensino e Pesquisa em Psicologia Clínica (NEPP). Departamento de Psicologia e Educação. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Av. Bandeirantes, 3900, Monte Alegre, 14040-901 - Ribeirão Preto, SP. Tel.: (016) 633 1010, Ramal 238. 
(2) Em virtude das dificuldades que acarretáriamos ao leitor da citação das Obras Completas de Freud a partir do ano da edição em português consultada (1976), em vez dos diferentes anos de publicação de cada escrito, optamos por manter, neste caso, a data original. 
(3) Ainda que não almejado explicitamente pelo tratamento, espera-se que "havendo se tornado independentes após completado o tratamento, os pacientes, mediante seu próprio julgamento, decidiam por alguma posição intermediária entre viver uma vida livre e uma vida de absoluto ascetismo'' (Id. Ibird, p.507). Seja qual for a escolha, o analista conservará sua consciencia tranquila." 
(4) Disto se depreende que o trabalho de enfrentamento e de "elaboração das resistências" (Freud, 1914) em análise equivale ao próprio desmantelamento da neurose.